Herculano Costa

Traumas psicológicos / traumas de infância (II)

(Continuação da edição anterior)
Concepção de Infância – Durante muito tempo, existiu a ideia, bastante comum, de que a pessoa passava por experiências traumáticas durante as primeiras fases do seu desenvolvimento intelectual. Que essas experiências marcariam o indivíduo para o resta da vida. Depois, então, descobriu-se que a verdade não era bem essa.
“Sigmund Freud elaborou, logo no começo de sua carreira como psicanalista, o conceito de trauma na infância. De acordo com suas pesquisas iniciais, o adulto neurótico – com problemas e sintomas psíquicos – teria passado por um ou mais eventos traumáticos na primeira infância. Estes eventos estavam já relacionados à ideia do Complexo de Édipo”.
“Porém, depois de pesquisar mais aprofundadas, Freud percebeu que na verdade, não havia estes traumas. Ou ainda melhor, experiências ruins podiam até acontecer – mas o que mais importava para o surgimento da neurose era a fantasia inconsciente do paciente. Em outras palavras, o trauma perdeu importância como o causador do problema. O problema, então (o evento que teria acontecido na infância), não seria mais o trauma, mas a fantasia inconsciente do passado”.
A ideia de infância, concretamente, não existia desde o século XII até o século XX. E nem também o conceito de trauma de infância, como a psicologia e a psicanálise trabalham essa questão, nos tempos atuais.
A Criança, no conserto histórico da família – O historiador francês Philippe Ariès (1914 – 1984), em sua iconográfica obra História Social da Criança e da Família (1978) desenvolveu grandes esforços, no sentido de apresentar a concepção de infância a partir da idade média. Sua iconografia muito contribuiu para conhecermos e entendermos o verdadeiro papel da infância, bem como suas necessidades e seu papel social.
A relação da obra com o termo políticas públicas pode ser assimilada como um marco precursor, no que tange à implementação e execução dessas políticas para a infância. Diz-se isso em virtude de a sociedade ter começado a se preocupar com os infantes somente a partir do momento em que houve um reconhecimento da importância destes no meio social, no sentido de evitar a sua exclusão social, quando da implementação de programas sociais para infantes e adolescentes.
A obra de Aimès, História Social da Criança e da Família, se apresenta como uma importante fonte de conhecimento sobre a infância, considerado por muitos autores como um trabalho pioneiro na análise e na concepção de infância.
Quando falamos em infância temos que nos referir a um conjunto de fatores que institui determinadas posições que incluem a família, a escola, pai e mãe entre outros, que colaboram para que haja determinados modos de pensar e viver a infância.
A propósito, compulsando literaturas a respeito disso, podemos verificar que foi a partir do século XII, até o início do século XX, que sociedade passou a criar conceitos e modelos para a infância, a partir de mecanismos que a valorizassem, principalmente a infância pobre e desvalida. Segundo a obra de Ariès o sentimento de infância sempre se deu preferencialmente nas camadas mais privilegiadas da sociedade. Enquanto o não conhecimento do verdadeiro sentido do significado da infância nas camadas pobres da sociedade deixava-as relegadas à própria sorte.
Atualmente, governos e entidades outras têm buscado reverter essas situações de desigualdade sociais relacionadas à infância através de programas de amparo, assistência social e de programas de cunho filantrópicos, com o fito de reparar seculares erros e descasos com a infância e adolescência. Porém, essas falhas e omissões, infelizmente, ainda perduram em nosso meio.
Por: Herculano Costa (*) – Jornalista – Reg. ACI N° 1.216
(*) Herculano Costa é Neuropsicanalista Clínico, Professor, Escritor e Poeta.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *