Jesus Cristo aniversaria, Papai Noel recebe parabéns

por Fátima Moura
Sejamos sinceros, poucos são os que vivenciam o período natalino na perspectiva propriamente cristã. Para muitos, Natal é somente uma festa que encerra o ano e ensaia o reboliço do Réveillon. Todos conhecem o verdadeiro sentido da expressão período natalino, mas a experiência não bate com a essência do festejo. Muitos exageram na ambientação temática composta por árvores, guirlandas, bolas reluzentes e iluminação multicolorida piscando para todos os lados; seja nas casas, áreas de lazer, centros comerciais, shoppings, praças ou parques. Porém, não se ouve mais dizer que vamos comemorar o nascimento de Cristo. Na véspera, são preparadas ceias sofisticadas nos lares. Na ocasião, o que tem de mais nobre é a reunião familiar, para comer, beber e dançar, numa temática totalmente profana.
Antigamente, se via com frequência a montagem de presépios simbolizando o cenário do nascimento de Cisto. Hoje, a figura cogitada, enaltecida, festejada, paparicada é do Papai Noel. Ele já foi bem discreto. Era uma entidade que compunha o imaginário infantil como um bom velhinho que distribuía presentes para as crianças do mundo inteiro. Agora ele é real, virou literalmente humano e integra o cenário comercial. Personificou-se num ente despudoradamente marqueteiro. Há uma grande expectativa no estacionamento dos shoppings das grandes cidades para recebê-lo. Depois da pomposa chegada a bordo de helicóptero, a sorridente criatura, de barba branca e vestes vermelhas, aboleta-se numa poltrona e haja gaitada (Feliz Natal, ho ho ho!), fingindo acolhimento aos pedidos das crianças. Esta é a autêntica inversão de valores.
Nós, católicos, vamos à missa no Natal (não mais a do galo) e ouvimos a leitura das escrituras bíblicas e a homilia sobre os eventos que dizem respeito à sagrada família, ao nascimento de Jesus e à sua ação. Verdade seja dita, quando chegamos em casa, a festa não tem sentido cristão. Na hora de promover uma confraternização, esquecemos que tal ação seria por conta do aniversário do maior bem feitor da humanidade, Jesus Cristo. Cristãos ou não, encaram o período natalino como uma festa de interesse mundano, e o que tem de mais fraterno é o encontro de parentes e amigos, mas com poucas referências especificamente sagradas.
Nos ambientes de trabalho, às vezes nem tão harmônico, quando chega o final de ano, muitos acreditam promover confraternizações pelo fato de participarem de reuniões meramente voltadas ao lazer. É bom ter cuidado com emprego do termo confraternização. Esta palavra carrega o sentido indeclinável do ato de irmanar, unir, agir comunitariamente pautado pelos princípios de justiça, ética, solidariedade, altruísmo, caridade, compreensão, acolhimento e perdão.
Geralmente no interior de instituições públicas, nos pátios de fábricas ou em restaurantes, bares, pizarias, funcionários se reúnem para comer beber, ouvir música e pilheriar, crentes de que vivenciam a verdadeira confraternização natalina. Nos próprios empregos, há pessoas que passam o ano inteiro disseminando a discórdia, fazendo comentários maldosos, levantando calúnias, fomentando suspeitas, denegrindo a imagem de colegas com atos, palavras, omissões, mas acham que algumas horas dedicadas ao happy hour – onde ocorrem sorteios, troca de presentes, discursos que não expressam a verdade – podem ser nominadas de confraternização.
Pouca gente agora fala da vinda do Menino Jesus, mas multidões aplaudem, com fervor, a chegada do Papai Noel. O fato é que precisamos resgatar, na prática, o verdadeiro sentido de confraternização natalina.



