editorial cs

“Tudo o que fizestes a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes” (Mt 25,40). Nesta passagem do Evangelho, que traz o critério do juízo final, Jesus institui sua presença viva e real nos pobres e sofredores do mundo. Podemos dizer que Pe. João Batista Frota, sacerdote de nossa diocese, que nos deixou aos 88 anos de idade, viveu de forma profunda e convicta esta passagem.
E nada o impediu de servir a Jesus Cristo, sob essa dimensão. Ordenado presbítero no ano de 1966, o alvorecer do ministério do Pe. João coincidiu com o alvorecer do Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965). O Espírito Santo suscitava uma nova caminhada eclesial a partir de uma maior fidelidade ao Evangelho e de uma abertura aos desafios da sociedade. Desde então, a Igreja foi chamada a envolver-se com as angústias e esperanças do mundo.
Pe. João Batista Frota entendeu tudo isso. Entendeu o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo e entendeu o momento de renovação eclesial. Um novo jeito de ser Igreja implicava em um novo jeito de ser padre. Por isso, ele não teve medo de envolver-se com a vida das pessoas, desde o início do ministério. Envolver-se no sentido de estar próximo, de acompanhar, escutar, sentir, aconselhar, confortar, conduzir, discernir.
Quem se deixa abrasar de amor pelo encontro com o Cristo Vivo não consegue ficar indiferente a quem sofre. Não consegue virar as costas à dor dos irmãos. Foi essa experiência de encontro verdadeiro com Jesus que fez o Pe. João amar e servir aos pobres, doentes, marginalizados, desempregados, dependentes químicos, moradores de rua. Referia-se a todos estes de um modo peculiar e terno: “filhotinhos” ou “irmãozinhos”.
Encarnou há quase seis décadas aquilo que o Papa Francisco afirmou ser o ideal de todo presbítero: “um pastor com o cheiro das ovelhas”. Um discípulo tão parecido com o Mestre de Nazaré de tal forma que, assim como o Mestre, foi ao encontro daqueles que estavam nas periferias da existência. E quase sempre, as periferias da existência coincidem com as periferias do território. Neste sentido, o Pe. João foi o padre das periferias humanas e geográficas.
Apesar de sua aparência simples e humilde, própria daqueles que vivem abnegados das coisas do mundo, Pe. João trazia dentro de si a riqueza dos místicos. A riqueza interior que somente os homens de profunda espiritualidade conseguem portar dentro de si. A oração e a contemplação eram como que alimentos cotidianos que sustentavam sua missão. Um homem transfigurado pela intensa vida de oração que possuía, e que, ao mesmo tempo, se deixava inquietar pelos rostos desfigurados dos pobres.
É isso que define a espiritualidade encarnada daqueles que amam a um Deus que se encarnou e habitou entre nós. As múltiplas faces da vida do Pe. João nos levam a dizer que o mesmo João de Deus, era o João dos pobres, da missão, da festa, do humor, da alegria. Dizia que devemos levar a vida “com amor e com humor”. Sua presença transmitia paz, ternura, serenidade, fortaleza, bondade. Seus gestos traduziam o amor de Deus em sua forma mais pura e concreta.
Pe. João morreu como viveu: pobre, sem bens materiais, sem herança a deixar. Mas deixou o legado de um testemunho. Amou a todos sem distinção. Serviu aos pobres como uma opção primeira. E foi fiel até o fim. Sua coerência de vida foi a sua mais bela pregação! O homem da alegria e da esperança nos deixa no Ano Santo da Esperança. Mostra-nos que o caminho para Deus é o caminho da caridade, e não há outro.
Que, do céu, o Pe. João continue a interceder pelos pobres e aflitos, por aqueles que sempre recorriam a ele. E que ele interceda por todos nós que fomos iluminados por seu testemunho, para que saibamos construir uma Igreja mais fiel ao Evangelho, comprometida com a vida, sendo um farol de esperança e de amor para todos os filhos de Deus.

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