“Eu te bendigo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondestes estas coisas aos sábios e entendidos e as revelastes aos pequenos. Sim, Pai, eu te bendigo, porque assim foi do teu agrado” (Mt 11, 25-26).
No último dia 24, a Igreja celebrou a primeira festa em honra à primeira beata cearense: Benigna Cardoso da Silva, leiga, virgem e mártir. A jovem sertaneja foi martirizada aos 13 anos por defender a sua dignidade, na década de 1940. Uma flor de candura e pureza que brotou no solo causticante do Cariri cearense!
Uma criança órfã, que, não obstante as agruras da vida sertaneja, encantou-se por Jesus Cristo, e encontrou nele o sentido de sua existência. É mais uma prova de que o chamado à santidade é universal, atinge a todos. Isso foi bem compreendido no interior daquele jovem coração. Benigna, tão logo aprendeu a ler a bíblia, que ganhou de presente de seu pároco, começou a evangelizar.
A todos cativava e impressionava. Mesmo em tão tenra idade, aprendeu a ter gosto em falar de Jesus e contar as histórias sagradas. Já dava realmente sinais de que nele havia encontrado o amor de sua vida. Foi assim que resistiu às investidas do jovem que tentou abusá-la sexualmente enquanto percorria o caminho de uma fonte para buscar água.
A menina já havia descoberto a fonte da verdadeira vida. E, percorrendo o caminho da fonte, ela foi conduzida à vida eterna. Entregou a Deus sua pureza, sua dignidade, seu amor a Jesus. Tão pequena e tão cheia de amor a Jesus, Benigna foi elevada aos altares por testemunhar a fé, na vida e na morte.
Foi beatificada com o maior título que a Igreja pode conferir a alguém: o de mártir, pois é o maior grau de configuração a Jesus. Soube ter a audácia, a coragem e a convicção próprias dos mártires de todos os tempos. Uma beata, glorificada agora nos altares, tendo pisado o chão da nossa realidade.
Como bem lembrou Dom Magnus Henrique, bispo de Crato, por ocasião da beatificação, há um ano: “Que belo e poético para a nossa realidade de nordestinos, contemplarmos a nossa santinha com seu vestido vermelho com bolinhas brancas, sinal do martírio e da pureza. Benigna sobe aos altares vestida de chita! Chita é o nosso tecido, faz parte da nossa história. É a santa do nosso coração. Temos uma beata no céu, vestida de chita”! A alusão é referente ao vestido que a menina usava no dia do seu mártírio.
Não podemos deixar de destacar o eco social que essa beatificação possui. Benigna carrega consigo o grito de muitas mulheres feridas, violentadas e desrespeitadas em sua dignidade. Uma santinha defensora da dignidade da mulher, símbolo contra o abuso de crianças e adolescentes, ícone na luta contra o feminicídio.
Benigna nos deixa como lição que o amor é capaz de vencer a força bruta da violência e do ódio. Eis a certeza sobre a qual queremos caminhar. Por isso, a menina santa continuará sempre presente na luta pela dignidade humana. Estando agora unida ao coro glorioso dos mártires, que ela interceda sempre pela Igreja na busca incessante pela promoção do ser humano e pela valorização da vida!

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