Desde 1971, a Igreja no Brasil celebra, em setembro, o Mês da Bíblia. É um momento forte de reflexão sobre a centralidade da Palavra de Deus na vida de cada cristão. A escolha do mês de setembro está ligada ao dia de São Jerônimo, celebrado no dia 30. Ele foi o tradutor da bíblia para o latim.
A iniciativa também faz parte da recepção criativa que a Igreja do Brasil teve das diretrizes do Concílio Vaticano II, que incentivou o acesso das Sagradas Escrituras a todos os fiéis. A Palavra ilumina a realidade e enriquece a experiência do encontro com Deus. Assim, o povo lê a sua própria realidade a partir do que se delineou ao longo da história da salvação, na qual Deus foi se auto comunicando.
Neste ano, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, através de sua Comissão de Animação Bíblico-Catequética, escolheu o livro do profeta Ezequiel como tema central do mês da bíblia, com o lema “Porei em vós meu Espírito e vivereis” (Ez 37,14). Esse livro foi escolhido como uma preparação para o Jubileu de 2025, cujo tema será “Peregrinos da Esperança”.
A finalidade principal da profecia de Ezequiel é despertar a esperança no povo de Deus, em um contexto marcado por sofrimentos, crises e opressão, durante o exílio na Babilônia. O profeta anuncia uma mensagem de vida e esperança em um contexto de morte e desolação. O cenário era marcado pela perda do Templo, das lideranças, da dinastia do rei Davi, ou seja, das bases que sustentavam o povo.
Sua mensagem convida-nos a confiar na promessa de Deus de renovação através da ação do Espírito Santo, que é capaz de dar vida nova ao que parecia estar morto. Uma das imagens que se destacam no livro é a visão que Ezequiel tem de um vale repleto de ossos secos, sem nenhuma possibilidade de vida. Esse era o retrato do povo exilado, destituído de qualquer sinal de esperança.
O profeta faz ver que a esperança está em Deus, quando profetiza a promessa divina: “Vou infundir um espírito, e vocês reviverão. Vou cobrir vocês de nervos, vou fazer com que vocês criem carne e se revistam de pele. Em seguida, infundirei meu Espírito, e vocês reviverão” (Ez 37,5-6). Esse relato poderoso simboliza a promessa de restauração e renovação espiritual que é central neste Mês da Bíblia. Nossa realidade atual está marcada por sinais de morte, guerras, crises climáticas e humanitárias. Contemplamos também muitos “cadáveres” gerados pela indiferença, pela exclusão, pela desigualdade. Nesse cenário, precisamos, uma vez mais, retomar a profecia. A esperança é fruto da profecia. Ezequiel também é porta-voz da promessa de que Deus dará ao seu povo um novo coração e um novo espírito, substituindo seus corações de pedra por corações de carne. É preciso uma maior abertura às novidades do Espírito, para podermos ser peregrinos da esperança. Mesmo diante de cenários sombrios, é necessário coragem para abrir caminhos de luz e marcar a sociedade com os valores do Reino de Deus. A partir das reflexões do Mês da Bíblia, o profeta Ezequiel inspira-nos a construir sonhos, alimentar utopias e fazer gerar esperança nos corações. Essa é a nossa missão de cristãos!

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