“O meu reino não é deste mundo!”
No próximo domingo (24), a Igreja proclama Jesus Cristo como Rei do Universo encerrando, assim, o ano litúrgico de 2019.A festa foi celebrada pela primeira vez em 1926, poucos anos após o fim da Primeira Guerra Mundial, quando a Europa passava por crises político-sociais e o comunismo crescia na Rússia. Nesse contexto, o Papa Pio XI reafirmou o senhorio de Cristo sobre a humanidade.
No mesmo ano, iniciava-se uma dura perseguição religiosa no México, fruto de uma legislação anticlerical. O amor a Cristo Rei sustentou os cristãos, e muitos deles se tornaram mártires ao entregarem a vida proclamando: “Viva Cristo Rei!”. Dentre estes está São José Sánchez Del Río, um jovem martirizado aos 13 anos, que foi recentemente canonizado.
Sabemos que o objetivo de tudo o que é celebrado ao longo do ano, de todas as festas e solenidades, deve ser a construção do Reino de Deus. Eis porque terminamos o calendário litúrgico celebrando Cristo Rei.
Vale lembrar também que, no último dia 17, vivenciamos o Dia Mundial dos Pobres e, voltar esse olhar para os oprimidos e marginalizados de nosso tempo, é condição primordial para que Jesus Cristo reine na sociedade.
Ao analisarmos o Evangelho de Lucas, no momento em que Jesus está diante dos executantes de sua sentença de morte, percebemos que a zombaria estava em torno do título “Rei”. As autoridades da época não atentaram para a nova forma de reinar que Jesus havia instaurado. Diante da incompreensão, o Messias explica: “O meu reino não é deste mundo!”.
Enquanto muitas autoridades deste mundo governam imprimindo a força física, subjugando o povo a interesses egoístas de uma minoria privilegiada e alicerçando-se em antiquadas oligarquias, a autoridade suprema do mundo reina sob a força do amor, da misericórdia e da justiça aos pobres e humilhados. Jesus tornou-se Rei não porque dominava as consciências ou manipulava ideologias, mas sim porque soube, como um pastor, conduzir as multidões cansadas e abatidas para a liberdade.
A soberania maior vem de Deus e a autoridade referencial está em Seu Filho Jesus. Seus ensinamentos, bem como a história da salvação, levam-nos a uma conclusão: o Reino de Deus é para os pobres. Jesus vai ao encontro de todas as misérias espirituais e materiais e, assim, alicerça o Seu reinado.
Sem dúvidas, há um abismo de diferenças entre tal reinado e a forma como muitas autoridades atuais exercem o poder. Existem governos elitizados que governam para si e esquecem-se dos pobres. Existem elites que, desnecessariamente, ostentam sua riqueza, e muitos dos nossos problemas que se perpetuam, como a concentração fundiária, a falta de moradia, a violência urbana, e as insanas desigualdades sociais.
Diante disso, nos perguntamos onde está o reino sonhado por Jesus. Quando a Igreja celebra o dia de Cristo Rei subsequente ao Dia Mundial dos Pobres, ela ergue sua voz profética, voltando-se para eles como sendo os preferidos de Deus. São os primeiros convidados a tomar parte no Seu Reino.
Vale salientar, porém, que o Reino de Deus não é construído por uma caridade meramente filantrópica, muito menos por uma caridade exibicionista de quem faz o bem em vista das exposições sociais e virtuais. Jesus ensinou um amor que ama sem alarde, na obscuridade de quem transforma o mundo com pequenas atitudes.
O poeta e jornalista mineiro Djalma Andrade ensina uma belíssima lição quando versa o seu Ato de Caridade: “Que eu faça o bem, e de tal modo o faça/ que ninguém saiba o quanto me custou/…/ que eu seja bom sem parecer que sou…”. É assim que se constrói o reino tão esperado pelos pobres.
As melhorias sociais, a transformação do mundo, a renovação das mentes e dos corações não podem ser meras utopias. Uma condição, porém, foi anunciada por São Paulo: “É necessário que Ele reine!”.