por Fátima Moura

Quando chega nesta época do ano, parece tudo favorecer uma reflexão sobre os vários setores da vida. Instala-se em todos os ambientes uma atmosfera diferente que nos traz momentos de autoanálise e nos sugere um balanço de nossas realizações e não realizações durante o ano que finda. E neste instante, estou pensando como se sentem realmente os idosos que habitam os asilos. Pelo que já ouvi de muitos deles, é bem duro encarar uma realidade oposta ao que se planeja, desde cedo, para este estágio da vida. Na minha introspeção, tenho certeza de que ninguém se prepara para deixar o seio da família e terminar os dias num ambiente que precisa de uma grande adaptação tanto das condições físicas quanto psicológicas e especialmente afetivas.
Muitos que estão nestes abrigos declaram aos visitantes, que no Natal, gostariam de ganhar um, pijama, um par de sapatos, um perfume, um batom, um vestino, uma camisa social, um rádio a pilha, em fim, coisas desta ordem. Mas no íntimo, nas profundezas da alma, todos gostariam de continuar integrado o cenário familiar e usufruindo do contato, do diálogo, dos carinhos de filhos, companheiros e parentes de qualquer grau. Bem sabemos, que não há presente que supra a falta do aconchego do lar que outrora comandaram, com muita maestria, cuidado, dedicação e amor.
Todos estão ali pelo fato de terem, de alguma forma, perdido seus entes queridos; uns por morte, outros pelo desprezível ato da ingratidão e desumanidade dos próprios familiares, inclusive, de filhos e netos. Pensando bem, nunca devemos esquecer deste expressivo contingente que habita os asilos, porque a situação de qualquer um deles hoje pode nos alertar para nosso amanhã. É bom lembrar que todos aqueles que recebem a graça de uma vida longa, irão, inevitavelmente, envelhecer. Porque não há condições sociais ou biológicas que nos garantam juventude após os 60 anos. Logo que ultrapassamos os 55, já podemos nos considerar debutantes na passarela dos anciãos. Enquanto somos produtivos, saudáveis com boas condições físicas e psíquicas, tudo está garantido; mas se não mais respondermos essas exigências padronizadas pela própria sociedade, estamos em situação de vulnerabilidade social.
Questiono como vamos resolver esse problema social num país que inverteu a pirâmide etária (até 1980, o Brasil era um país de jovens, hoje está na fase adulta pendendo para velha), sem exercitar o senso de dignidade, respeito e humanidade da população para com as pessoas de mais idade. Daqui para frente, os abrigos de velhinhos tendem a ficar superlotados. O problema é que cada indivíduo que ingressa numa instituição desta modalidade, não escolheu a nova moradia, mas foi arbitrariamente obrigado a se desvincular do próprio núcleo familiar que fundou, porque seu vigor orgânico foi naturalmente se esvaindo. Nesta situação, os mesmos que dispensaram preciosos cuidados aos parentes, agora precisam de assistência. E a família se exime desta obrigação. Isto denota violência
Ao transpor o portão de entrada do abrigo, geralmente o idoso acaba de trilhar um destino sem retorno. Eu pelo menos não conheço ninguém que tenha deixado um parente no asilo, tenha ido pegá-lo de volta. Lá, um considerável número de abrigados amarga o desprezo da própria família, nos momentos importantes: aniversário, Dias dos pais, Dia das mães, e da tão aguardada Confraternização Natalina, que outrora vivenciou em família.

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