O Novo Templo (Dedicação da Basílica do Latrão)

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Exéquias do Mons. João Batista Frota

Dom Vasconcelos, nosso bispo diocesano, pediu-me para dirigir à esta assembleia celebrante, algumas palavras. Unimo-nos aos sentimentos de vossa reverendíssima, neste nono sacerdote que fez sua páscoa eterna, no seu governo desta diocese de Sobral.
Através de nós aqui presentes está reunida nossa Igreja Diocesana para rezar pelo descanso eterno do querido Pe. João Batista Frota.
Cumprimento aos meus irmãos sacerdotes, na pessoa do padre José Edmilson Eugênio do Nascimento, o decano dos padres massapeenses. Extensivos aos diáconos, seminaristas e religiosas.
Uma saudação especial ao Edilson, Umberto e Alberto Frota, irmãos do Padre João, representando sua família, aos paroquianos desta paróquia onde ele trabalhou muitos anos.
Nossa gratidão pela acolhida do pároco, Pe Emanoel Franklin e agentes de pastorais.
E a todos que tiveram a graça de terem sidos acompanhados e ajudados no desabrochar de suas vocações: que seja sacerdotais e outras vocações específicas.
Lembro, ainda, do saudoso Papa Francisco, quando pediu às igrejas particulares celebrem, Servos de Deus aí existentes, neste dia 09 de novembro. Portanto, louvamos a Deus pelo Venerável Padre Ibiapina, pelos Servos de Deus: Dom Expedito Lopes, Mons. Waldir Lopes de Castro e Mons. Joaquim Arnóbio de Andrade, filho desta paróquia. Aproveito, pois, para saudar afetuosamente às Irmãs Missionárias Reparadoras do Coração de Jesus e o vice postulador da causa de beatificação destes Servos, o Dr. José Luis Lira.
Celebramos hoje a “dedicação” (ou consagração) da Basílica São João de Latrão. É a primeira catedral. É a catedral do Papa, como bispo de Roma, a Igreja-Mãe de todas as igrejas do mundo. Nela se realizaram cinco Concílios ecumênicos.
Esta festa nos convida a tomar consciência de que a Igreja de Deus, simbolizada e representada pela Basílica de Latrão, é hoje, no meio do mundo, a “morada de Deus”,
o testemunho vivo da presença de Deus na caminhada dos homens.

As leituras bíblicas falam do sentido do Templo, com vários símbolos da “igreja”. Peço encarecidamente que nos coloquemos dentro desta dinâmica eclesiológica, principalmente o ministério sacerdotal do padre João Frota, como filho e igreja.

Na 1ª Leitura, o Profeta Ezequiel vê sair do TEMPLO uma Água, que gera Vida por onde passa. (Ez 47,1-2.8-9.12)
* O Povo exilado na Babilônia, longe de Jerusalém e do seu templo destruído, é fortalecido pela esperança do surgimento de um novo templo.
A Água viva, que brota do templo, simboliza a Vida nova, a salvação oferecida por Deus.
Na 2ª Leitura, São Paulo afirma que somos TEMPLO DE DEUS e
morada do Espírito Santo. (1Cor 3,9c-11.16-17)
Por isso, animados pelo Espírito Santo, devemos ser o Sinal vivo de Deus e
testemunhas da salvação diante dos homens do nosso tempo.
No Evangelho, Jesus apresenta-se como o NOVO TEMPLO.
“Destruí este templo e em três dias eu o reerguerei… Falava do templo do seu corpo”. (Jo 2,13-22)

– O TEMPLO, na época de Jesus, havia se transformado
num grande mercado, num instrumento de exploração.
Usavam o nome de Deus para obter lucro e benefícios pessoais.
Jesus quer Purificar o Templo, libertando-o desses exploradores.
Assim entendemos o gesto violento de Cristo, de chicote na mão…
Mas Jesus quer mais: fala de um Novo Templo,
que irá substituir o templo de Jerusalém.
O Templo representava, para os judeus, a residência de Deus,
o lugar onde Deus se revelava e se tornava presente no meio do seu Povo.
Jesus agora é o “lugar” onde Deus reside no mundo.
O corpo de Jesus é lugar de encontro entre Deus e a humanidade.
Ao ressuscitar dos mortos o próprio Filho,
o Pai o colocou como pedra fundamental do novo santuário.
Sobre ela, pôs as pedras vivas, que são os discípulos de Cristo.
Todos juntos, formamos o corpo de Cristo,
o novo Templo onde Deus habita.
Cristo e os membros da comunidade cristã formam em conjunto
o novo santuário do qual se elevam os sacrifícios agradáveis a Deus.
Já não se trata das ofertas da carne e do sangue dos cordeiros,
mas das obras de amor em favor dos homens.

Como é que podemos encontrar Deus e chegar até ele?
O Evangelho de hoje responde: é olhando para Jesus.
Nas palavras e nos gestos de Jesus, Deus se revela aos homens,
manifesta o seu amor, oferece a vida plena,
faz-se companheiro de caminhada e aponta caminhos de salvação.
* Os cristãos são pedras vivas desse novo Templo
onde Deus se manifesta ao mundo e vem ao encontro dos homens
para lhes oferecer a vida e a salvação.
Os homens do nosso tempo têm de ver no rosto dos cristãos
o rosto bondoso e terno de Deus;
têm de experimentar, nos gestos de partilha, de solidariedade,
de serviço, de perdão dos cristãos, a vida nova de Deus;
têm de encontrar, na preocupação dos cristãos com a justiça e com a paz,
o anúncio desse mundo novo que Deus quer oferecer a todos os homens.
Nesse novo templo, em que nós somos pedras vivas,
“os verdadeiros adoradores vão adorar o Pai em espírito e verdade.” (Jo 4,23)
– A Igreja é de fato essa “casa de Deus”,
onde as pessoas podem encontrar essa proposta de libertação e de salvação,
que Deus oferece a todos?
– E o nosso templo, o nosso Santuário, é um lugar de encontro com Deus,
uma fonte de vida, para nós e para a nossa Comunidade?

A RESSURREIÇÃO:
– A Ressurreição é a esperança que dá sentido a toda a caminhada do cristão.
A fé cristã torna a esperança da ressurreição uma certeza absoluta,
pois Cristo ressuscitou e quem se identifica com Cristo nascerá com ele
para a vida nova e definitiva.
A nossa vida presente deve ser uma caminhada tranquila, confiante, alegre,
em direção a essa nova realidade.
– A Ressurreição não é a continuação da vida que vivemos neste mundo;
mas é a passagem para uma vida nova onde, sem deixarmos de ser nós próprios, seremos totalmente outros… É a realização da vida plena.
– A certeza da Ressurreição não deve ser, apenas, uma realidade que esperamos; mas deve ser uma realidade que influencia, desde já, a nossa existência terrena. É o horizonte da Ressurreição que deve influenciar as nossas atitudes;
é a certeza da ressurreição que nos dá a coragem de enfrentar
as forças da morte que dominam o mundo,
de forma a que o novo céu e a nova terra que nos esperam
comecem a desenhar-se desde já.

– Cristo nos garante: “Eu sou a Ressurreição e a Vida.
Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá”. (Jo 11,25)
– “A esperança cristã é a ressurreição dos mortos:
Tudo o que nós somos, o somos na medida
em que acreditamos na Ressurreição.” (Tertuliano)
Dom Vasconcelos, permita-me, destacar alguns pontos da vida do Pe. João Frota.
Com os corações doloridos pela perda, mas confortados pela esperança, professamos nossa fé: a vida não é tirada, mas transformada, porque Jesus disse: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que tenha morrido viverá” (Jo 11, 25). Cremos que este servo bom e generoso já ouviu o chamado para entrar na eternidade feliz com Deus: “Vem ‘filhote’ de meu Pai, vem participar da alegria do teu Senhor” (Mt 25,23).
Em breve a galeria dos Servos de Deus de nossa Diocese de Sobral será ampliada, com o exemplo e fama de santidade do Padre João Frota.
Sua vocação ao sacerdócio desabrochou nos idos de 1950 em contato com os seminaristas em Massapê, que estudavam em Sobral.
O secundário foi feito no Seminário Menor de Sobral. Curso superior de Filosofia se deu no Seminário da Prainha – Fortaleza. E o curso de Teologia em Roma.
Por ocasião do Concílio Vaticano II, conheceu e fez amizade com o bispo auxiliar de Salvador Walfrido Teixeira Vieira.
Noutra oportunidade, no mesmo Concílio, fez um desabafo a Dom Walfrido, agora bispo diocesano de Sobral, que gostaria de fazer um discernimento, estudar… no que foi atendido, realizando os Estudos Sociais em Paris.
Disse-lhe, ainda, que deseja ser um padre com o rosto dos pobres. No que respondeu D. Walfrido: o rosto do sacerdote é o padre que o faz.
Recebeu a ordenação sacerdotal, aos 26 de março de 1969 em Roma; das mãos do Senhor Cardeal Semoré. A primeira missa solene foi celebrada no dia seguinte, na Catacumba de Priscila, em Roma.
Quanto às atividades pastorais: exerceu o cargo de Pároco de Massapê, de 1971 a 1988, onde desenvolveu um intenso e dinâmico apostolado, tanto na sede paroquial como nas demais capelas; construiu casas populares em mutirão, criou cooperativa de artesãos de palha e toda uma rede de solidariedade. Também teve atuação na sala de aula, transmitindo conhecimentos e virtudes, responsável maior pela formação de toda uma geração.
Nesse ínterim, trabalhou como Coordenador Diocesano de Pastoral, 1974.
Depois foi transferido para Sobral, agora, como Pároco do Patrocínio de 1989… Vigário Geral até 1998.
Era o Reitor do Seminário diocesano São José, quando Dom Walfrido me colocou como Reitor de “fato” e o Pe. João, como Reitor de Direito, visto eu não ter sido ainda ordenado. Procurei nos seis anos de convivência, preservá-lo de um repouso após a refeição do almoço, pois a campainha era acionada constantemente, por pessoas carentes de Sobral.
Foi professor na Universidade do Vale do Acaraú, em Sobral. E aqui faço referência a criação do Núcleo de Ciência e Religião (NUCREL), pois o Pe. João afirmava que tanto a ciência como a religião, queriam o bem do homem. Publicou em 1995 “Marcas de Esperança”, obra em estilo leve, agradável e claro. Onde relata sua experiência na Europa, nos Kiboutz de Israel e no Nordeste semi-árido.
O monsenhor João Batista Frota, Padre João, é autor de: Construindo o Amanhã (1997), Procurando as Pegadas de Jesus (2009/2016) e Recados (2018), com uma coletânea de mensagens de paz.
Em Sobral, tem continuidade o seu trabalho na construção da felicidade, da paz e justiça social. Um exemplo é o Projeto Cabra Nossa de Cada Dia, possibilitando o leite de cabra para crianças carentes em várias comunidades rurais. O projeto já teve reconhecimento nacional e serve de modelo de convivência com o semiárido nordestino. Em 2011, Padre João recebeu o Prêmio Direitos Humanos, na categoria “Enfrentamento à Pobreza”, concedido pela Presidência da República, das mãos da Presente Dilma Rousseff.
Agradeçamos a Deus por esta vida sacerdotal repleta de realizações; esta Igreja que sempre lhe retribuiu este amor e hoje o devolve a Deus para que junto dele interceda por nós, para que, nossa Diocese nunca perca o horizonte do Reino que é justiça e paz.
Dai-lhe Senhor o descanso eterno e brilhe para ele vossa luz sem fim. Amém!

Mons. Raimundo Nonato Timbó de Paiva – 09.11.2025

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