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Dentre as tantas crises que vigoram mundialmente, podemos identificar uma lamentável crise ética que paira sobre a humanidade. De um modo especial, quando analisamos o grande poder dado à técnica, às altas tecnologias, à robótica, à inteligência artificial. Os avanços tecnológicos já interferem no código da vida. O terrorismo nas relações internacionais e a extrema violência nas relações sociais são marcas de uma crise ética.
É necessário, portanto, pensar os princípios mínimos de uma ética mundial, capaz de salvaguardar a integridade da vida e a boa relação entre os povos, e deles com a natureza. A ausência de limites éticos é um grande desafio pelo qual o mundo atravessa. O problema se agrava com a ascensão ao poder de líderes que ameaçam os direitos humanos e a preservação do meio ambiente, o que constitui um risco a toda a humanidade.
O progresso da técnica não acompanhou o progresso da ética, de tal forma que corremos o grande risco de um regresso a dimensões de grande desumanidade e até de barbárie. Temos, no entanto, a capacidade da reconstrução, de pensar um rumo alternativo para o mundo, onde todos, encontrando-se na mesma e única Casa Comum, a Terra, sintam-se responsáveis pelo futuro. É necessário sonhar coletivamente.
O Papa Francisco tem sido uma voz profética no mundo ao falar da necessidade de pensar em caminhos alternativos de desenvolvimento. Ensina que é preciso ouvir o clamor dos pobres e da Mãe Terra. Insiste na necessidade de humanizar as relações entre os povos. Fala sobre recuperar os senso de comunidade. Testemunha que é preciso recuperar os valores do coração como ponto de partida de uma ética universal.
Alguns princípios universais estão enraizados naquilo que é específico do ser humano. Um exemplo é a ética do cuidado. Saber cuidar caracteriza o ser humano como tal e pressupõe uma relação amigável com a realidade, sendo a mão estendida para a solidariedade. No centro do cuidado está a vida em sua imensa diversidade.
Daí deriva-se outro dado da essência humana que é a solidariedade. Pelos estudos da bioantropologia, descobriu-se o que fez nossos ancestrais hominídeos darem o salto da animalidade para a humanidade. Eles caçavam os alimentos e não os consumiam individualmente, mas os traziam para o grupo que os consumiam em conjunto. Todos vivemos, porque, lá atrás, existiu solidariedade. Esse é um dos princípios fundadores da humanidade.
Um outro caminho ético é o da compaixão, que significa não deixar quem sofre sozinho, mas assumir a paixão dele como própria (com). O que há de mais nobre no ser humano é a sensibilidade para com o outro em dor, exclusão, ou perda. Sem a compaixão, tem-se somente crueldade, desumanização e marginalização do outro-semelhante.
Estes são apenas alguns dos princípios fundadores de uma ética mundial, capaz de fazer o caminho de um futuro alternativo. Aqueles que se nutrem de um mínimo de humanismo entendem que é preciso escolher o caminho mais favorável à vida plena. Podemos escolher entre a salvação coletiva e a destruição coletiva. Podemos escolher entre o caminho inviável do ódio e da intolerância e o caminho vital da paz, da justiça e da concórdia.

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