“A DEUS, ZÉ WILSON!
A ZÉ WILSON, ADEUS!”
A frase acima intitulou a Coluna Poucas & Boas, publicada neste Semanário, edição de 19.09.2009. E neste sábado (14), véspera de celebrarmos o décimo quinto aniversário da morte de José Wilson Brasil, resolvi reeditar a homenagem àquele amigo, ilustre cidadão que deixou enorme lacuna na cultura sobralense. Acompanhe!
Faleceu às 12h45min, da terça-feira, 15.09.2009, na Santa Casa de Misericórdia de Sobral, o maestro José Wilson Brasil (foto), 92, em decorrência de problemas cardiorrespiratórios. Negro, de origem humilde e pobre de bens materiais percorreu toda sua existência como homem simples, mas sempre ostentando uma envergadura moral exemplar. A forma como amava e defendia Sobral, sua prestimosidade e seu constante bom humor já se constituíam num autêntico patrimônio cultural e afetivo da cidade, digno de respeito, admiração e imitação. Foi-se o companheiro Zé Wilson, mas um pouquinho desse seu legado ficou em cada um daqueles que tiveram o prazer de com ele conviver. Da minha parte, vou guardá-lo com carinho para sempre. A Deus, Zé Wilson! A Zé Wilson, adeus!
Familiares e amigos prestaram-lhe homenagens na Funerária São Francisco, sendo depois celebrada missa na igreja da Sé. Em seguida, o caminhão do Corpo de Bombeiros que transportava o caixão fez parada em frente à Escola de Música de Sobral que leva o nome do maestro. Após a Banda de Música local executar o dobrado José Wilson Brasil (de Carlos Patriolino) e uma marcha fúnebre, o cortejo seguiu para o cemitério São José, onde ocorreu o sepultamento.
Origens – Filho de Maria do Carmo Genovina e de pai desconhecido, José Wilson Brasil nasceu a 21 de abril de 1917 na Praça Dep. Francisco de Almeida Monte (Praça São Francisco), num casarão que existiu no local onde hoje funciona a Oi (Ex-Telemar). Nascido em família muito pobre, ele e os três irmãos não tiveram condições de frequentar escola. Ainda criança, José Wilson foi entregue aos cuidados de dona Maria Furtado de Mendonça (dona Mundola), com quem morou até os 16 anos de idade. Sua protetora era filha da abolicionista Maria Thomázia.
Ofícios – Seu amor às letras e à música, sua luta por grandes causas, associados ao convívio “com os brancos”, como sempre dizia, transformaram o modesto pintor de paredes em regente da Banda de Música sobralense. Antes, havia sido aluno do respeitado maestro cearense Eleazar de Carvalho, no Rio de Janeiro, onde fora estudar a mando do Pe. Dr. José Palhano de Sabóia. Zé Wilson foi criador de corais musicais e desde 1939 até a década de 1990 era quem cantava os “Ofícios da Paixão” nas celebrações da catedral de Sobral nas Semanas Santas. Também foi funcionário público dos Correios e Telégrafos, onde se aposentou como Carteiro.
Além desses atributos, era assíduo leitor, principalmente de assuntos ligadas à sua terra, tornando-se, também, colecionador de documentos históricos raros. De memória privilegiadíssima e espírito solidário, jamais se furtava em colaborar com quem o procurava. Com imensa boa vontade sempre colocava seus conhecimentos, bem como seu arquivo pessoal, à disposição daqueles que, como ele, se interessavam em levar adiante a história da cidade. Por conta disso, era frequentemente consultado por estudantes, escritores e pela imprensa.
Amigos – Mesmo sem ter completado o curso Primário, deu provas de inteligência e interesse pelo saber, tendo até conseguido aprender rudimentos de latim. Continuou sua luta buscando aprendizagem no convívio com personalidades ilustres da cidade, dentre elas, o bispo Dom José Tupinambá da Frota, de quem se tornou íntimo e com quem chegou a travar conversas demoradas e reservadas. Outros grandes amigos foram Cônego Joviniano Loiola, com quem aprendeu música, Pe. Palhano de Sabóia e quase todos os sacerdotes e intelectuais da cidade. Durante toda sua vida Zé Wilson Brasil também dispensou igual tratamento às pessoas mais humildes do seu vastíssimo círculo de amizade.
Gestões – Sem nunca ter exercido cargo público, não obstante ter recusado o convite do Mons. Arnóbio Carneiro para candidatar-se a vereador em Sobral, Wilson Brasil fez gestões dignas de registro. Dentre elas, a que culminou na instituição de um carro fúnebre municipal para os pobres. Outra conquista sua foi a construção da Pracinha, com busto de Maria Thomázia, na rua de mesmo nome, depois de reiterados pedidos aos prefeitos Joaquim Barreto Lima e Ricardo Barreto. Além disso, o maestro sempre esteve usando seu prestígio e amizade junto às autoridades em busca de benefícios para os mais necessitados.
Lamento – Como eterno apaixonado por Sobral, sempre defendia que o estudo da história do município deveria ser levado às escolas, principalmente às séries iniciais. “Se nossa juventude ficar alheia à história, um dia não mais saberemos quem fomos, nem o que já possuímos”, disse-me várias vezes. Reclamava também da falta de reconhecimento dos vultos locais do passado pelos mandatários e políticos atuais. “Temos na cidade até rua com nome de animais! Por que não homenagear com elas os sobralenses ilustres que ainda não foram lembrados?”. Assim desabafava se referindo à rua em que morou nos últimos anos de sua vida, no bairro das Pedrinhas, Rua Caititu, hoje com outra denominação.
Reconhecimento – A Escola de Música de Sobral foi oficialmente criada através do decreto n° 303/01, de 23 de janeiro de 2001, quando teve sua sede própria inaugurada na Praça Dr. Ibiapina (Praça do Teatro São João). Por força da Lei n° 753, de 05.05.2007, essa Instituição passou oficialmente a se chamar Escola de Música Maestro José Wilson Brasil. Tempos depois o ilustre sobralense também recebeu homenagem no bairro das Pedrinhas, onde viveu as últimas décadas, emprestando seu nome à Rua Maestro José Wilson Brasil – CEP 62040-775.
Desprendimento – Como prova de seu amor a Sobral e às boas causas há anos doou à Câmara Junior um terreno no bairro Sinhá Sabóia, único bem de que dispunha além da sua residência, para a construção de uma escolinha que recebeu o nome da sua esposa. Segundo o Professor Almino Rocha Filho, na ocasião da lavratura do contrato de doação Zé Wilson assim se expressou, emocionando os presentes àquela solenidade: “Assinando este documento assino a carta de alforria para muitos jovens escravos do analfabetismo”. Era assim, Zé Wilson, um poço de bondade.
Estava sempre esbanjando educação refinada, sapiência no ouvir e no falar ou aconselhar, com permanente sorriso sincero e amigo e sempre com uma brincadeira ou frase jocosa e respeitável. José Wilson Brasil tinha profundo conhecimento da história local, era detentor de palavra fácil e tinha satisfação em compartilhar seus conhecimentos. Uns o buscavam apenas saborear do seu agradável bate-papo; outros, para colher experiência; outros mais para dirimir dúvida sobre o passado de Sobral. E todos saíam mais enriquecidos depois de cada encontro.
Assim viveu o eterno guardião da história de Sobral, José Wilson Brasil. Continuamente vivendo para Deus, para a família, amigos e sempre fazendo o bem, o que o credenciou a ser admirado, respeitado e amado por todos em sua passagem pela Terra.
O maestro José Wilson Brasil foi casado com Francisca Olímpia Brasil (falecida), com quem teve os filhos Antônio, Margarida (falecida), Maria do Carmo e Antonio Alberto (falecido). À família, sinceras condolências. Ao saudoso amigo, até o encontro definitivo! E a Deus, nosso muito obrigado pelo presente chamado JOSÉ WILSON BRASIL!

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