Tributo à Evangelina Saboya 

Com a alma em festa e embalada por forte sentimento de gratidão à Prefeitura Municipal de Sobral, na pessoa do Prefeito Ivo Ferreira Gomes, estamos aqui para prestar justa homenagem à sobralense Evangelina Saboya, escolhida para nominar o Parque que hoje é inaugurado, equipamento urbano que proporcionará melhor qualidade de vida à comunidade do Bairro Sinhá Saboia.
Dados Biográficos – Nascida em Sobral, a 24 de novembro de 1898, Evangelina era filha de José Saboya de Albuquerque e Maria da Soledade Saboya de Albuquerque (Sinhá Saboia).
José Saboya de Albuquerque – Nasceu em Sobral a 06/08/1871, filho de Ernesto Deocleciano de Albuquerque e Francisca Carolina de Saboya. A trajetória de vida de José Saboya foi marcante por sua atuação como Magistrado em Sobral, com exemplos de honradez, rigor no cumprimento da Lei, inteireza moral e sólida cultura jurídica. Como cidadão, teve extremado amor à Sobral, aqui permanecendo por toda a sua existência. Exerceu o cargo de Juiz de Direito de Sobral de 1899 a 1935. Aposentado, assumiu a Direção da Fábrica de Tecidos, fundada por seu pai, promovendo grande expansão na indústria e regulamentação das Leis Trabalhistas para os operários. O Fórum da Comarca de Sobral e a Praça, antes denominada Coluna da Hora, levam o seu nome. Faleceu a 26/04/1950, e está sepultado em Sobral.
Sinhá Saboya – Sobralense (1875- 1963). Destacou-se por sua refinada educação, dedicação à família e obras de assistência social ao povo de sua terra. Filhos do casal: Evangelina Saboya casada com Theodor Ziesmer; Francisca Saboia – casada com Sergio Saboya; Maria da Soledade (Mariinha) – casada com Plinio Pompeu de Saboya Magalhães; Ernesto Saboya – casado com Fernandina Saboya; Pudenciana (Nasinha) – casada com José Maria Mont’Alverne.
A família Saboya é originária da Itália, região de Piemonte, sendo uma das mais tradicionais da Europa. No séc. XVIII, Gabriel Alghery de Saboia, transferiu-se para o Ceará, fixando-se em Aracati. No séc. XIX, seu filho José Baltazar Alghery de Saboia, depois conhecido por Cel. José Saboia (1800 – 1870), chegou em Sobral, casando-se com Joaquina Figueira de Melo, em 1824, deixando numerosa descendência. Foi o primeiro Saboia a chegar em nossa cidade.
O protagonismo e atuação da família Saboya em Sobral remonta há mais de dois séculos passados, deixando um legado de trabalho, empreendedorismo, honestidade e integridade moral, com exemplos edificantes nas mais variadas áreas de atividades.

Perfil – Evangelina Saboya de Albuquerque
“Pessoas existem que, exercendo o papel de cidadãs, traçam caminhos para os que virão. Exemplos a serem seguidos” (Dom Helder Câmara).
Evangelina foi uma dessas pessoas. Guardava a simplicidade em suas ações, o desprendimento de bens materiais, a prática de doações e partilha com os mais necessitados.
Cultivava as artes: literatura, pintura e música. De cultura erudita, dedicava-se à leitura dos grandes pensadores europeus, falava fluentemente francês e gostava de viajar, tendo ido à Europa, União Soviética e países da América do Sul.
Definiu o seu caminho literário para a poesia, tendo deixado algumas como “Amanhecer”, “Assim é a vida”, “Aldeia de Pisak”, dentre outras, publicadas em opúsculo em 2010, onde, o Pe. Osvaldo Chaves, grande amigo, a ela se referia na apresentação, com as palavras:
“Esquecer o favor é sonegar a dívida. Evangelina criou o maior bairro de Sobral.  Criou e lhe deu nome – Sinhá Saboia- Renovou o ‘’Outro Lado do Rio’’, doando espaço para a construção de escolas públicas, como Escola Sinhá Saboya e Escola Profissional São José, onde o jovem poderia cursar o ensino secundário ou o profissionalizante. Evangelina não era só um coração generoso a evidenciar-se em grandes doações, era uma sensibilidade a vibrar diante das belezas do mundo interior”.
Quando Pe. Osvaldo cita que ela criou o maior bairro de Sobral, faz-se necessário esclarecer. Com a morte de seus pais, tornou-se por herança, proprietária de grande parte dos terrenos onde hoje se localiza o Bairro Sinhá Saboia, conhecido como Várzea Grande. Na década de 1960, recebeu uma decisão governamental de desapropriação dos referidos terrenos, para a construção das cem primeiras casas populares de Sobral. Evangelina preferiu doá-los, em benefício da população carente.
O Bairro Sinhá Saboia foi criado pela Lei Municipal nº 134/1966, de 30 de maio de 1966, assinada pelo então Prefeito Cesário Barreto Lima.
Outras doações de Evangelina merecem ser citadas, como os terrenos para a construção da Igreja de São Pedro, do Cemitério Santa Marta, a pedido do Pe. Osvaldo Chaves; para a Escola Profissional São José, construída por Mons. Aloísio Pinto, em 1968 e para a Escola Estadual Sinhá Saboya.  Registre-se ainda, o terreno para o prédio do INSS, localizado no Centro de Sobral, até hoje em funcionamento.
Raras pessoas teriam gesto de tamanha grandeza. Quiseram colocar o seu nome no bairro, Evangelina agradeceu, mas recusou. Foi então, sugerido o nome de sua mãe, Sinhá Saboia, que falecera há pouco tempo.
Residia com seus pais José Saboya e Sinhá, a quem deu assistência e afeto até o fim de seus dias, no casarão da Praça do Figueira. Não teve filhos, vivia cercada de sobrinhos, era amada por todos como uma segunda mãe.
Na década de 1920, foi escolhida em uma enquete realizada por um jornal local, como a mais bela sobralense. Era uma mulher à frente de seu tempo, que rompia paradigmas dos padrões sociais de sua época.
Tive o privilégio de conviver por muitos anos com ela, com quem aprendi sábias lições de vida. Tinha especial predileção por crianças, flores e animais, cuidando daqueles feridos e abandonados na rua, seguindo os ensinamentos de São Francisco, a quem tinha grande devoção.
Evangelina faleceu a 06 de maio de 1988 e está sepultada em Sobral.
O legado maior deixado pela homenageada, além de sua própria história, corajosa e humana, foi o exemplo de partilha de bens materiais, a integridade moral, o respeito à natureza e os princípios cristãos que nortearam a sua existência.
Por tudo o que ela representa para a nossa família e para a comunidade sobralense, manifestamos aqui a mais profunda gratidão e respeito à sua memória.
Sinhá Saboia, para quem desconhece a sua história, também é merecedora de homenagem.
Foi uma pessoa extremamente caridosa, tendo ajudado aos flagelados das secas 1915 e 1932, que se alojavam em vários locais de Sobral, à espera de alimentos, remédios e recursos dos governantes. Na época das enchentes do Rio Acaraú, foi grande a sua participação junto aos desabrigados, com a colaboração das Senhoras de Caridade, tendo em Anahid Andrade e Sinhá Sabóia, grandes lideranças.
“Aquele que dedicar sua vida e fazer o bem, não morrerá completamente. Suas obras ressurgirão, não importa o tempo, irão iluminar caminhos e seu nome será lembrado com respeito e gratidão pelas gerações futuras”, nas palavras de Cícero, orador romano, encontro a vida de Evangelina.
Concluindo, saúdo e parabenizo o Exmo. Sr. Prefeito Ivo Ferreira Gomes, pela entrega deste equipamento urbano, que beneficiará a uma população de, aproximadamente, 35 mil habitantes, residente no Complexo Sinhá Saboia, que abrange cinco Conjuntos Habitacionais (Cohab I – Cohab II, Jatobá I e II e Santo Antônio). A doação inicial de Evangelina, com o fermento da generosidade, transformou-se no maior bairro desta cidade.
Destacamos e agradecemos o apoio do Exmo. Governador Camilo Santana e a participação do Deputado Federal Leônidas Cristino, pela contribuição a tão relevante projeto social para os sobralenses.
Registro, o meu reconhecimento ao Prefeito de Sobral, pela gestão responsável e progressista, em meio a tantas adversidades sanitárias, econômicas e sociais. Tarefa para os indômitos e talentosos, que confiam em Deus e acreditam na força e na reserva de valores humanos, ainda existentes em Sobral, no Ceará e no Brasil.
Giovana Saboya Mont’Alverne  – Profa. Emérita da UVA. Historiadora. Membro da Academia Sobralense de Estudos e Letras, do Instituto Histórico e Geográfico de Sobral e da Academia Brasileira de Hagiologia.
Sobral, 12 /02/2022