Um olhar para trás, logo, enxergamos a cena literária cearense nos anos 90. É inegável a aura de fundamento estabelecido por tal geração. Seja, nos encontros realizados, seja nas páginas da mídia literária impressa ou nas redes sociais, seja nos concursos ou nos prêmios estaduais, nacionais e internacionais.
Mas é preciso acentuar que, a crítica burguesa, muitas vezes, só tem o olhar para a clássica literatura brasileira, pois, é de interesse nos estudos há muito tempo, aqui e lá, porque? Foi concebida há muito tempo. Na medida em que entramos na interseção final do século XVIII início do século XX, as coisas começam a se tornar diferentes. Já existem importantes estudos, mas, na medida em que o tempo se aproxima dos nossos dias.
Até pouco tempo fingia-se ignorar a existência de alguns equívocos na análise da crítica oficial, por exemplo, sabemos de vários casos de novos estudos literários, que ainda se encontra no meio do caminho, até mesmo entre os câneos oficiais. Entre eles, está Aluísio Azevedo, que revelou pela primeira vez ao mundo que o povo brasileiro tem um espírito alegre, divertido e autêntico. Quem leu o romance O Cortiço sabe que não foi nem José de Alencar, nem Machado de Assis, nem Mário de Andrade e muito menos Jorge Amado. Aqui e agora, afirmamos de que alguns autores de livros didáticos e acadêmicos estão equivocados.
Veja apenas dois exemplos, quando Jorge Amado criou Gabriela cravo e canela e Dona Flor, sabia que elas eram netas de Rita Baiana que, segundo Aluísio Azevedo, em O Cortiço, ela tinha a pele da cor de cravo e canela. O outro, o consagrado Machado de Assis, quando criou a Capitu, a Sofia e a Vigília, de olhos oblíquos e dissimulado, já estava no Cortiço, sob aforma masculina, na pele do astuto, sonso, velhaco e dissimulado Jerônimo. Citamos estes dois fatos, só para avaliar os equívocos em alguns estudos literatura brasileira.
Posto isso, digamos neste “filtro teórico” das mensagens literárias a nós enviadas do passado e com as quais, sobretudo, fazemos uma experiência sensível no nosso presente, dando um soco no muro, ou seja, uma experiência do humanismo no processo de amadurecimento do ser literário, com um olhar literário sobre a década de 90.
Esse é o desafio no qual acreditamos, que fará parte da consistência que se sente das obras que a geração de 90, vem construindo, essa distância temporal que permitirá uma produção crítica de qualidade sobre tal.
No Brasil, muitos escritores da geração dos anos 90, pelo que se lê, ouvido e visto,hoje, como a contista e romancista Conceição Evaristo, que estreou no Suplemento do Caderno Negro. Logo, acionou o processo de sua descoberta, com o romance O Semelhante.Belos anos 90, em que também se registra:A Lua que Menstrua, de Elisa Lucinda e tantas outras grandes obras,que já são parte da grande literatura brasileira.
Deste modo, é que colocamos na literatura nacional, a cena da literatura cearense, da década de 90, como um momento especial de visibilidade para os escritores estreantes e de referência para o futuro, entre os trabalhos literários estão as publicações de contos na Revista O Pão, a Literária da Sociedade Brasileira dos Médicos Escritores e a Almanaque, de contos cearenses. Organizada por escritores Pedro Salgueiro, Tercia Montenegro e Elisângela Matos, que deveria ser e poderá vir a ser um dos maiores orgulho da literatura brasileira, se forem lidos e estudados. Conforme merece.
Em se tratando da arte de construir uma literatura nacional, a química proposta por escritores cearenses soa como a descoberta de uma nova expressão literária da literatura urbana com base na realidade social e psicológica das periferias, como fez nos seus contos, nos anos 90, Tércia Montenegro. E agora, com autêntica narrativa nos romances “Turismo para Cegos” e o“Em Plena Luz”, Tercia Montenegro, Já é um orgulho brasileiro.
Para completar essa cena literária cearense, citamos entre outros, os escritores Jorge Pieira, Luciano Bonfim e o Ronaldo de Brito, pelas importâncias dos seus textos dos anos 90, cujos discursos são ainda hoje atualíssimos. Sem dúvida um olhar dacrítica oficial, dará a verdadeira dimensão de seus trabalhos literários a nível nacional.
Como se sabe, os 90 de nossa literatura cearense estão, inclusive, agora fazendo parte do imaginário leigo da literatura brasileira. Mesmo que demore, é esperado que seus textos sejam lidos, pensados, debatidos e estudados, uma vez que, o que conservam de tradicional é a ânsia de desdobrar o homem a si mesmo e em testemunhar a dor e a delícia de ser cidadão do mundo neste Estado do Ceará.
Com isso, queremos mostrar que, a na realidade, o que se considera geração 90 da literatura deste estado é apenas parte de um grande processo de consolidação da literatura brasileira de prover o país e o mundo de obras literáriasrelevantes.
Nomes de outras gerações da literatura ainda nos presenteiam com a emoção que somente uma obra fornece. Aqui, lembramos os mais próximos dos nossos dias: de Rachel Queiroz a Moreira Campos; de Moreira Campos a Ana Mirada; de Ana Miranda a Socorro Acioli; de Socorro Acioli a Davi Helder de Vasconcelos; de Davi Helder de Vasconcelos a Benedito Herculano Costa; de Benedito Herculano Costa a tantos outros escritores cearenses, que vem alavancando a literatura no porto seguro de José de Alencar.
Não há dúvida. Que a crítica serve justamente para consolidar aquele “território” de comunhão de encontro e de reconhecimento comum dos escritores, aqui se referimos a Padrón, o lugar poético da poetisa GalegaRosália de Castro. Enfim, é precisa acabar, de uma fez por toda, com essa lamentável pedantaria, da crítica acadêmica, que muitas vezes, não consegue ir além das franjas das palavras tiradas do furor analítico.
Portanto, olha, ouve: os escritores cearenses dos anos 90, recorda-te, como chamavam a beleza literária? É dentro dessa expectativa, que devo lembra o romancista e ensaísta vanguardista Italiano Alberto Arbasino, parafraseado pelo crítico Franklin de Oliveira: “a literatura sempre vive com sua tradição. Por isso, em vez de falar-se de sua tradição, deve-se apenas falar de suas novas formas e sentir sua beleza.” É nessa constelação que se encrava a literatura cearensedos anos 90, em que se registra algo mais profundo do que a identidade dos contrários.
Afinal, aproveitem e atualizem-se dos eventos onde estes autores cearenses estarão. Convivemos com uma riqueza que poucos brasileiros sabem. A grande literatura cearense se constrói.O poder literário é o instrumento desta volta aos anos 90.
Jornalista, Historiador e Crítico Literário.

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