Salmito Campos

Pesquisei algumas coisas do compositor e cantor Antonio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes, nascido em Sobral Ceará no dia 26 de outubro de 1946, do qual sou admirador e canto algumas músicas de sua autoria.
Belchior, aos 16 anos estudou filosofia num colégio de padres e depois viveu num monastério numa comunidade de frades italianos. Foi estudante de medicina na Faculdade Federal do Ceará, em 1968, mas abandona no quarto ano para se dedicar à música. Um excepcional letrista da música popular brasileira com suas composições que podemos dizer, enigmáticas.
Veja o que ele falou num show que fez ao vivo no Pelourinho da Bahia em 1998.
“Eu sempre quis fazer uma música que fosse contemporânea, vamos dizer, ligada com o sentimento, com o sonho, com a utopia, com as razões todas do que a gente estava vivendo.
Daí o fato de tentar participar de uma geração na cidade de Fortaleza que estava empenhada numa espécie de modernização do modo de fazer música, da performance e sobretudo da letra, nós fomos sempre ligados à minha geração cearense, muito ligado na poética da música popular, sentindo que de uma forma ou de outra ser um canal competente para expressar o som, a alegria, a tropicalidade, a modernidade também.
Eu fui pra São Paulo como “Pau de Arara”, como emigrante normal, né, que busca na cidade grande a realização. Eu fui primeiramente para o Rio de Janeiro para participar do festival universitário. Ganhei o festival, a vitória do festival valeu como uma espécie de lançamento da música popular brasileira que estava sento feita no Ceará aquela altura e em seguida fui pra São Paulo como um operário da minha música assim, e esse sempre foi o sentimento que eu tive.
São quantos dias que entre aqueles discos de lançamento, vamos dizer assim, mais alguns discos que fiz ao vivo mais algumas coletâneas com as músicas traduzidas por espanhol e discos que gravei com canções de outros. São mais de 20 discos, eu creio que, 23 discos”.
No show Belchior cantou a canção de Luiz Gonzaga “Riacho do Navio” composta em parceria com Zé Dantas que fala em levar a música nordestina para a civilização e aí ele comentou que “civilizar o conhecimento da música popular, mesmo de cantadores de violeiros, a música de Luiz Gonzaga, que era a música mais presente em todos nós nordestinos, a música de Jackson do Pandeiro, (etc.).
Mas também eu me encantei muito com a música que eu ouvi no rádio, a tal ponto que sempre identifiquei, por exemplo, o artista popular com o artista que cantava no rádio, cuja música saía do rádio para o ar, né! Ah, esses cantores eram Orlando Silva, Cauby Peixoto, Ângela Maria, Noel Rosa, Núbia Lafaiete e pessoas assim do final da década de 50.
Assim que eu estava fazendo um trabalho de transição entre a música tradicional do Brasil e a Bossa Nova, por exemplo, preparando ali a Jovem Guarda, a Tropicália.
Enfim, todas aquelas coisas que foram movimentos definidores de novos caminhos de nova forma de compor, de cantar, que foram depois, por exemplo, identificadas com os diversos grupos modernizadores da música popular, o grupo baiano, o grupo mineiro, o grupo cearense, enfim, essas tendências e correntes todas que eram, todas elas assim fundamentadas na ideia de fazer uma música contemporânea de fazer uma música nova que incorporasse não apenas os elementos típicos da música popular brasileira, mas também as correntes de comunicação que estavam acontecendo na música do mundo todo.
A minha realização, a minha felicidade pessoal, dependente do resultado da minha profissão e do ponto de vista profissional eu não sou nem quero ser realizado, eu quero estar realizado ao longo da vida, eu não tenho esse sentimento de aposentadoria com a arte. Assim, eu não quero exercer o meu ofício para comprar uma fazenda na qual possa me esconder, tá certo?, não, não. Não quero.
Eu quero a estrada da música mesmo. Quero um encontro contínuo, diário com as pessoas, com o público e fazer desse contato com o público e na razão mesmo do meu trabalho e da minha vida”.
Palavras do nosso conterrâneo cearense compositor e cantor Belchior que todos nós sabemos que ele abandonou seu público. Infelizmente.
Prof. Salmito Campos – (jornalista e radialista).

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