Casos Cômicos no “Pé da Serra” de São Benedito

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Salmito Campos

No Distrito de São Benedito, Graça, hoje município, minha avó Francisca de Almeida Azevedo, mais conhecida como Fransquinha Salmito, era uma mulher de estatura baixa, cabelos sempre pretos e longos, autoritária e muito respeitada pela comunidade local. Vivia ainda no tempo da aristocracia.  Seu marido, Salmito Quirino de Almeida Azevedo era um empresário lojista muito bem-sucedido.
No seu casarão, Mãe Fransquinha, (assim era tratada pelos netos e bisnetos), tinha à sua disposição três empregadas que as tratava com carinho e atenção. Essas auxiliares de serviços tinham o direito ao café, almoço, merenda e jantar. Trabalhavam o dia todo em qualquer tarefa que fosse necessária: lavar roupas e passar, cuidar dos porcos, galinhas, capotes, patos, perus, marrecos e manter a casa sempre limpa.
Além das serviçais ela contava com mais dois homens para as tarefas pesadas: João Batista e Francisco Alves, (Chicão), o mais próximo dela, engraçado e brincalhão.
Mãe Fransquinha era muito política, uma espécie de “cabo eleitoral” dos prefeitos que ela apoiava e até governadores. O Distrito Graça com uma grande população de eleitores era mira certa dos políticos em época de eleições.
Certa vez, inesperadamente ela recebeu a visita do Governador César Cals e sua comitiva. Imediatamente mandou fazer almoço para a equipe do governador. Era tempo da safra de manga. Viu que tinha muita gente para almoçar. Era preciso bastante comida. Muito astuciosa, chamou o Chicão e disse: “Chicão, prepara um grajau de manga e chama os caboclos do governador pra chupar manguita no salão depois da cozinha. A intenção era encher a “barriga” dos motoristas e outros acompanhantes. As manguitas muito apetitosas “doce como mel” ninguém chupava menos que dez.
O almoço foi servido primeiro para as autoridades: governador, prefeito de São Benedito, deputados estaduais e vereadores. Na segunda remessa, em outra mesa grande lá depois da cozinha, chegou a vez dos motoristas e acompanhantes do governo. Na hora de servir, Mãe Fransquinha foi dar uma olhada como estava a mesa. Ela vistoriava tudo. Mas de repente escuta a voz do Chicão dizendo na frente de todos em tom de brincadeira: “Dona Fransquinha, essas manguitas me deram foi mais apetite”. Ela de imediato disse: “cala a boca Chicão”.
Outra atitude de Mãe Fransquinha, lembro como se fosse hoje. Ela não queria que os netos bebessem cerveja. Na festa da padroeira Nossa Senhora das Graças os netos rapazes, nada mais justo do que tomar uma geladinha para impressionar as moças paqueras. Os netos que iam para a festa pela primeira vez ela mandava todos comerem coalhada com açúcar na hora da merenda.  Logo em seguida dizia: “Quem comeu coalhada, hoje não pode beber cerveja”. Os netos que já sabiam do caso não comiam, ficavam só a gargalhar dos outros que haviam comido. No dia seguinte ninguém mais queria provar da coalhada da nossa avó.
Prof. Salmito Campos – (jornalista e radialista).

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