No último dia 27 de agosto, completaram-se 25 anos do falecimento de Dom Hélder Pessoa Câmara, um dos membros mais influentes e carismáticos do episcopado brasileiro. Conhecido como “Dom da Paz”, Dom Hélder encarnou a Boa Nova de Jesus Cristo de uma forma radical, sendo no Brasil e no mundo um dos maiores defensores dos direitos humanos, da justiça e da fraternidade.
Cearense, nascido em Fortaleza, em 1909, foi ordenado presbítero em 1931, e nomeado bispo em 1952. Foi bispo auxiliar do Rio de Janeiro de 1952 a 1964, e arcebispo de Olinda e Recife de 1964 a 1986, quando se tornou arcebispo emérito. Faleceu no dia 27 de agosto de 1999.
Dom Hélder desempenhou um papel central na criação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em 1952, e do Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (CELAM), em 1955. Foi um influente representante da Igreja do Brasil no Concílio Vaticano II (1962-1965) e o criador da Campanha da Fraternidade a nível nacional, em 1964, uma das mais importantes iniciativas da Igreja no compromisso com as transformações sociais.
Durante o período da ditadura militar, Dom Hélder foi uma voz profética em defesa dos direitos humanos. Sem medo, ele denunciava as torturas, desaparecimentos e assassinatos praticados pelo regime, além de falar vivamente contra a miséria e a pobreza extrema, enfrentadas por grande parcela da população brasileira. Como represália, seu secretário Padre Antônio Henrique foi morto pelos militares, em 1969.
Apesar de ser constantemente ameaçado de morte, o Dom da Paz nunca se deixou intimidar e nunca abandonou seus ideais. Possuía uma visão crítica sobre as estruturas de poder que perpetuam a exclusão social e as desigualdades. E dizia categoricamente: “Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto por que eles são pobres, me chamam de comunista”! Com a influência de Dom Hélder no episcopado brasileiro, a Igreja foi fundamental no processo de redemocratização do Brasil.
No mesmo dia 27 de agosto, também é relembrado o falecimento de Dom Luciano Mendes de Almeida e de Dom José Maria Pires, outros dois bispos-profetas de uma Igreja em saída. Assim como estes, tantos outros marcaram a sociedade brasileira pelo compromisso com os mais vulneráveis e por terem abraçado a causa do Reino de Deus. Homens marcados pela mística que brota do coração do Evangelho.
Esse compromisso com a fé e com a sociedade fazia com que estes homens recebessem um reconhecimento internacional. Dom Hélder foi, por várias vezes, indicado ao Prêmio Nobel da Paz, mas por interferência do regime militar, ele nunca recebeu essa premiação. Recebeu 32 títulos de doutor honoris causa de universidades do Brasil e do exterior.
Porém, seu legado ultrapassa os prêmios que recebeu, bem como seus cargos e títulos, pois tudo isso se revestia de uma profunda humildade. O “bispo das favelas”, como também era chamado, que dava palestras pelo mundo afora, sempre estava próximo dos pobres e oprimidos.
Sua visão de uma “Igreja pobre e para os pobres” está em profunda sintonia com o Papa Francisco. Sua vida e missão continuam inspirando muitas pessoas que, no mundo inteiro, lutam por um mundo melhor. Sua profecia, sua mística, sua poesia, sua santidade continuam a nos dizer que a paz é fruto da justiça. Com certeza, ele continua presente na caminhada da Igreja, dos pobres e de todos os homens e mulheres de boa vontade!

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