Nas quatro semanas do tempo do Advento, a Igreja nos convida a viver os sentimentos e a espiritualidade de nossos irmãos do Antigo Testamento, em sua longa espera pelo Messias prometido. Caminhamos ao encontro de Cristo, que vem ao nosso encontro no Natal.
Assim como a sociedade se organiza em torno do ano civil, a Igreja vive em função do ano litúrgico. Enquanto o ano civil começa no dia 1º de janeiro e termina no dia 31 de dezembro, o ano litúrgico começa com o primeiro domingo do Advento e termina com a solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo. No percurso do ano litúrgico, vivemos as grandes etapas da História da Salvação: a promessa de um Salvador, a preparação de sua vinda, a encarnação e a vida pública de Jesus, sua paixão, morte e ressurreição, sua volta ao Pai, o envio do Espírito Santo e a peregrinação do Povo de Deus rumo à Pátria eterna. Mais do que recordar fatos do passado, fazemos “memória” deles – isto é, vivemos esses fatos hoje sob uma nova forma, com um novo espírito, abertos à ação da graça divina.
Nas quatro semanas do tempo do Advento, a Igreja nos convida a viver os sentimentos e a espiritualidade de nossos irmãos do Antigo Testamento, em sua longa espera pelo Messias prometido. Caminhamos ao encontro de Cristo, que vem ao nosso encontro no Natal, e nos preparamos para sua vinda gloriosa, no final dos tempos. Durante o tempo do Advento, nossos principais mestres são o profeta Isaías, o precursor João Batista e “a serva do Senhor”, Maria Santíssima.
Isaías viveu em um dos períodos mais difíceis da história do povo de Israel – aproximadamente no sétimo século antes de Cristo. Naquela época, o Egito e a Assíria disputavam o domínio da região. O profeta viu seu país ser invadido e destruído mais de uma vez. Embora tivesse bom relacionamento com a classe dominante, sua pregação não era ouvida. Ao contrário: seus ouvintes tornavam-se cada vez mais indiferentes, desprezando-o e ridicularizando-o. Isaías, contudo, não se calava. Suas palavras, marcadas pela esperança, ressoam ainda hoje: “Preparai no deserto o caminho do Senhor, aplainai na solidão a estrada de nosso Deus… A glória do Senhor se manifestará… Eis o vosso Deus, eis que o Senhor Deus vem com poder, seu braço tudo domina… Como um pastor, ele apascenta o rebanho, reúne, com a força dos braços, os cordeiros e carrega-os ao colo” (Is 40, 3.5.10-11). Isaías nos dá o testemunho da necessidade de buscarmos o Salvador, tendo uma vida reta e cheia de esperança viva.
João Batista, consciente de que sua missão consistia em preparar os caminhos apontados por Isaías, convidou o povo à conversão: “Aplainai o caminho do Senhor… Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo… Produzi frutos que provem a vossa conversão… Toda árvore que não der bom fruto será cortada e jogada no fogo. Aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu… Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Jo 1,23; Mt 3,2.8.10-11).
Maria Santíssima foi a primeira pessoa a saber que o Messias prometido era o próprio Filho de Deus. Na Anunciação, ela foi informada de que Deus tem um Filho e que, por isso, ele pode e deve ser chamado de Pai!  Com o “sim”– “Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38) – ela colaborou decisivamente para que o Filho de Deus assumisse nossa carne e habitasse no meio de nós. Agora, podíamos novamente nos alegrar: Deus, o Emanuel, passava a caminhar em nossas estradas. Entre as lições que Maria nos oferece, destacam-se a disponibilidade e a confiança.
Isaías, João Batista, Maria e uma multidão de irmãos e irmãs de todos os tempos e lugares nos ensinam a viver o Advento com uma prece constante nos lábios e no coração: “Vem, Senhor Jesus!” (Ap  22,20). Repetindo-a constantemente, estaremos nos preparando para acolher os dons que o Senhor deseja nos darpor ocasião de sua vinda.
Dom Murilo S.R. Krieger, scj – Arcebispo Emérito de São Salvador da Bahia

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