Humanidade e divindade: um estreito vínculo

A fé cristã professa firmemente que em Jesus, o Nazareno, se unem o divino e o humano, sem mistura e sem confusão. Ele é, ao mesmo tempo, verdadeiro homem e verdadeiro Deus. Isso nunca foi fácil de entender. No começo do cristianismo havia uma dificuldade de entender essa dupla natureza de Jesus. Era difícil aceitar, sobretudo, a humanidade do Filho de Deus.
Historicamente, existe um problema que até hoje parece não ter sido bem resolvido. Pensou-se, com frequência, que para exaltar “o divino” seria necessário sacrificar, menosprezar, dominar, aniquilar “o humano”. Consequentemente, para uma pessoa ser considerada religiosa seria preciso esquecer sua própria humanidade.
Para os cristãos, que professam a fé em um Deus que se humanizou, essa questão teria que ser facilmente resolvida. Mas não é tão simples assim. A questão é complexa e histórica. Mas, em Jesus de Nazaré, pelas suas pregações, pelas suas práticas e pelo projeto de mundo novo que ele inaugurou, podemos tirar uma lição: nós nos tornamos mais divinos à medida que nos fazemos mais humanos.
Neste sentido, só é possível alcançar a plenitude “do divino” à medida em que nos empenhamos para conseguir a plenitude “do humano”. Por isso que, em Jesus, se unem a plenitude da divindade com a plenitude da humanidade. Para nós, este esforço de se humanizar esbarra nas realidades do pecado, do sofrimento, da miséria. A humanidade está marcada também pela “desumanidade”.
Daí porque o êxito em sermos pessoas plenamente humanizadas nos supera, transcende aquilo que as capacidades humanas podem realizar. Na vida, quando encontramos pessoas tão profundamente humanas a ponto de nos desconcertar com sua bondade, tais pessoas nos impressionam. E dizemos que parecem ser “de outro mundo”.
O amor, com a prática que dele emana, é uma força que potencializa o processo de humanização. Quando olhamos para testemunhos, como Teresa de Calcutá, Mahatma Gandhi, Nelson Mandela, Martin Luther King, Zilda Arns, Irmã Dulce, entendemos o que é a bondade humana pelas causas humanitárias que abraçaram. Foram pessoas autenticamente religiosas, porque revelaram o que é um ser humano que se deixa tocar pela divindade.
Não é incomum encontrar, nos ambientes religiosos, pessoas que são tão profundamente “religiosas” quanto profundamente desumanas. Por esse motivo, os vínculos entre religião e violência se reproduziram tantas vezes na história. O próprio Jesus se deparou com tal realidade e entrou em conflito com ela. O que o levou a ser vítima de uma morte violenta foi o enfrentamento com “os homens da religião” e por motivos estritamente religiosos.
Daí a necessidade de os cristão, em sua vivência de fé, sempre se lembrarem de Jesus. É preciso tê-lo presente e assumir seu projeto de vida. Um projeto que conduz diretamente ao ser humano. No processo de humanização encontramos o caminho seguro para Deus. E assim, compreendemos como e por qual razão, sendo plenamente humanos, podemos encontrar o sentido de nossas vidas precisamente em Deus.



