Monsenhor Waldir Lopes de Castro (1931-2001) 19 anos de vida Eterna

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Por: Pe. Nonato Timbó – Pároco da Paróquia São Manuel

Nasceu na cidade de Sobral, no Ceará, no dia 2 de fevereiro de 1931, filho de Victor de Castro Cavalcante e Francisca Elusa Lopes de Castro Cavalcante. Foi batizado, pelo Padre José Gerardo Ferreira Gomes, na Catedral de Sobral, no dia 8 de março de 1931, sendo seus padrinhos: Manuel Gomes da Motta e Maria de Vasconcellos Motta. Recebeu o sacramento da crisma a 8 de dezembro de 1944, já estando no Seminário, sendo seu padrinho Monsenhor Olavo Passos.
Iniciou seus estudos primários com a professora Dona Maroca Paulo e concluiu no Grupo Escolar Professor Arruda, em Sobral. Ingressou no Seminário Menor de Sobral a 8 de fevereiro de 1944.
Em sua pasta no Seminário Diocesano de Sobral, encontramos um “Atestado de Conduta”, assinado pelo então Pároco da Paróquia de Nossa Senhora do Patrocínio, de Sobral, Mons. Vicente Martins da Costa, no qual se lê: “Atesto que Valdir Lopes de Castro Cavalcante, filho legítimo de Victor de Castro Cavalcante e Francisca Elusa Lopes de Castro, residentes nesta Paróquia de Nossa Senhora do Patrocínio desta Cidade, é de bom comportamento, bons costumes e diz querer seguir o Estado Eclesiástico. Ita in fide Parochi. Sobral, 4 de fevereiro de 1944”.
Na mesma pasta, lemos duas correspondências de Mons. Waldir. Uma ao Diretor das Vocações Sacerdotais e outra ao Bispo Diocesano, as quais transcrevemos:
“Exmo. Revmo. Pe. Sabino Loiola
M.D. Diretor das Vocações Sacerdotais da Diocese de Sobral
O abaixo assinado, filho de pais pobres, desejando matricular-se no Seminário Diocesano desta cidade, vem mui respeitosamente a presença de V. Revma. pedir que lhe seja concedida, em virtude do motivo acima exposto, uma concessão nas mensalidades do referido Estabelecimento.
E. R. M.
Valdir Lopes de Castro Cavalcante”.
Pelo despacho do Diretor das Vocações Sacerdotais se sabe que a data é de 7 de fevereiro de 1944.
Também com a mesma data temos a Carta a Dom José:
“Exmo. Revmo. Sr. Bispo Diocesano
O abaixo assinado, filho de Victor de Castro Cavalcante e Francisca Elusa Lopes de Castro, residentes na Paróquia de Nossa Senhora do Patrocínio, desta Cidade, sentindo-se chamado ao estado sacerdotal, vem humilde e respeitosamente pedir a V. Exa. que se digne conceder sua admissão no Seminário Diocesano, como peticiona.
Junta à presente o atestado de idoneidade do Revmo. Vigário desta Freguesia, deixando de juntar a certidão de crisma, por ainda não ter sido crismado.
Nestes termos
P. D.
Valdir Lopes de Castro Cavalcante”.
Dom José Tupinambá da Frota despacha:
“Como se quer. Ao Revmo. Pe. Reitor para os devidos fins. Sobral, 7 de fevereiro de 1944. + José, Bispo Diocesano”.
Por oportuno esclarecemos que Mons. Waldir assinou durante muito tempo como Valdir Lopes de Castro Cavalcante ou Valdir Lopes de Castro, no entanto, quando necessitou atualizar seus documentos descobriu que em seu registro civil constava Waldir Lopes de Castro, o que passou a utilizar até sua morte, também sua mãe, tanto na certidão de nascimento quanto na certidão de batismo, consta seu nome apenas “Elusa Lopes de Castro Cavalcante”.
Concluiu o Seminário Menor no ano de 1950. Fez seus estudos de Filosofia e Teologia no Seminário Maior da Prainha, em Fortaleza, no percurso de seis anos. Recebeu as duas ordens menores do Leitorato e Acolitato no dia 20 de julho de 1954. Foi ordenado diácono no dia 8 de dezembro de 1955 e, um ano depois, no dia 8 de dezembro de 1956, pela imposição das mãos do Bispo Dom José Tupinambá da Frota, na Igreja Catedral de Sobral, foi ordenado Sacerdote.
Iniciou suas atividades sacerdotais como cooperador da Paróquia do Patrocínio, em Sobral (01/1957 a 03/1964). No mesmo período foi professor no Seminário de Sobral e na Escola Técnica de Comércio D. José.
Assumiu a Paróquia de São Manuel, de Marco (CE), a 08/03/1964. Em seu trabalho pastoral incentivou a Catequese, nos moldes conciliares, apoiou as Comunidades Eclesiais de Base e a prática do Dízimo.
Procurou viver sua vida sacerdotal de forma irrepreensível e discreta buscando sempre o seu crescimento espiritual. Sempre aberto às inovações e determinações da santa Mãe Igreja, buscava pautar sua opinião e seus ensinamentos sempre à luz do Evangelho e dos documentos do Magistério da Igreja. Costuma dizer aos paroquianos que preferia errar com a igreja do que acertar fora dela.
Homem de espiritualidade marcante, bem-humorado e de grande capacidade intelectual não se contentava em ficar apenas no campo espiritual, mas envolvia-se em causas sociais que pudesse ajudar os mais humildes. Um fato marcante foi a sua participação total na construção de casas para os paroquianos pobres que ainda não possuíam sua moradia. Na gestão do Prefeito Raimundo Neiva Neves empreendeu esforços e conseguiu criar o bairro dos alemães para atender essas famílias carentes. Nesse bairro ele construiu um centro comunitário onde atualmente funciona a sede da Pastoral do PHN (Pastoral por Hoje Não) e também uma lavanderia pública na Rua Presidente Médici, onde hoje funciona um Posto de Saúde.
Além do aspecto social, procurava manter uma postura neutra no campo político partidário. Por ocasião da abertura da Campanha da Fraternidade de 1996, cujo tema era “Fraternidade e Política – Justiça e Paz se abraçarão”, promoveu um encontro com as lideranças políticas da cidade e celebrou um momento de paz selado por um aperto de mão entre os principais líderes políticos. Com seu caráter manso e pacífico conduzia a Paróquia de forma avançada fazendo uma gestão participativa. Ao organizar as duas maiores festas paroquiais: Festa de Corpus Christi e Festa do Padroeiro São Manuel, sempre convocava os presidentes pastorais e Ministros da palavra para escolherem e estudarem os temais da noite do novenário, além de toda decisão fazer questão de ouvir o conselho pastoral.
Sempre preocupado com a vida de seus paroquianos, empreendeu esforços, pedindo ajuda de casa em casa e fazendo campanhas beneficentes para a construção de uma barragem que assegurasse a travessia do Rio dos Caibro, braço do Rio Acaraú que durante a estação chuvosa deixava a cidade ilhada, tendo como única forma de travessia transporte fluvial. Costumava distribuir esmolas todas as sextas-feiras e nunca se recusou a receber nenhum paroquiano aflito para aconselhamento, pois tinha um carisma muito latente para unir casais que passavam por crises, pais agoniados com seus filhos, pessoas doentes e muitos outros assuntos que o procuravam para pedir uma luz, um direcionamento.
No campo educacional, percebeu após um ano de trabalho à frente da Paróquia de São Manuel do Marco, que a cidade só dispunha de educação até o primário (hoje ensino fundamental – séries iniciais) e reunindo as lideranças locais lançou a ideia de se criar uma escola que pudesse atender o ginasial (hoje ensino fundamental – séries finais). Com muito esforço e determinação, inaugurou o Colégio Cenecista São Manuel, tendo sua aula inaugural no dia 10 de maio de 1966, onde o mesmo foi professor e diretor de 1969 a 1985. No campo da comunicação criou a Radio Boa Nova FM e fundou a pastoral da comunicação.
No campo pastoral era incansável e trabalhou muito na implantação do Dízimo, onde dedicou muito esforço no processo de sensibilização, conscientização e implantação, sendo pioneiro na diocese de Sobral, visto que a Paróquia de São Manual de Marco foi a primeira na Diocese de Sobral, porém sempre encarando tudo com muita simplicidade e persistência. Implantou, também, a pastoral litúrgica, pastoral da boa esperança que cuidava do cemitério São Roque (do qual foi o responsável pela ampliação e reconstrução), Ordem Franciscana Secular, Seguidores de São José, Pastoral Familiar, Legião de Maria, Pastoral da criança e grupos de jovens, sendo este último ligado a PJMP – Pastoral da Juventude do Meio Popular. Era um grande incentivador dos jovens, criando, em 1993, a Semana de Louvor ao Sagrado Coração de Jesus que visava difundir a devoção entre os paroquianos tendo à frente jovens missionários, ao mesmo tempo em que arrecadavam fundos para a construção do Santuário Coração de Jesus, que era um de seus maiores interesses para poder levar evangelização aos bairros mais afastados no centro da cidade. Para a construção do Santuário ele encampou diversas campanhas, sempre com o apoio total de seus paroquianos e de conterrâneos que mesmo morando fora, nunca deixaram de ajudar. Era visível o apreço que todos tinham por ele, da criança ao idoso, todos o respeitavam e o admiravam. Em 22/07/1995 – o grupo de adolescentes “Corações Jovens” outorgou-lhe uma placa no final da santa missa com a seguinte mensagem: “Entontece-nos uma paz que percorre o teu espírito, alimenta um manto Divino que te cobre, pois entregaste a tua vida a Deus e teu é este privilégio.”
Seu amor por Deus e pela Igreja nunca o deixou em zona de conforto, pois reconhecia a necessidade de evangelizar também a zona rural da paróquia e de trabalhar na construção de capelas nessas comunidades para promover a Liturgia da Palavra, reuniões de grupos e associações pastorais, sendo responsável pela construção de várias delas como a Capela de São Francisco no Triângulo do Marco, Nossa Senhora Aparecida na Santa Rosa I, Capela de Nossa Senhora de Fátima no Mocambo, Capela de São João Batista no Solidão e Nossa Senhora das Graças na comunidade de Maracajá.
Tinha profundo zelo litúrgico, fazendo questão de ensinar aos seus paroquianos como deveriam se comportar na Santa Missa, no cuidado com as leituras, ritos e cânticos adequados. Gostava de músicas, poesia e elaborou alguns hinos para associações, escolas e movimentos. Participou da formação de corais infantis, adolescentes e idosos, ensinando-os a tocar instrumentos e a usar técnicas de canto, uma vez que possuía voz privilegiada, qualidades muitas vezes enaltecidas por seus colegas sacerdotes.
Por méritos de seu serviço prestados a Santa Madre Igreja, D. Walfrido Teixeira Vieira, então Bispo de Sobral, pediu à Santa Sé o título de Monsenhor, recebido por Mons. Waldir, no dia 27 de fevereiro de 1975.
Entre 1980 e 1981, assumiu a direção do Seminário Diocesano São José, de Sobral. Dedicou-se a reformar a Igreja Matriz, sem que viesse a contemplar o término da obra.
Em reconhecimento à sua dedicação prestada ao povo de Marco, foi-lhe conferido o título de cidadão marquense, no dia 24 de novembro de 1984, pela Lei Nº. 009, de 18 de novembro de 1984. Em 22/12/2001, enquanto fazia caminhada, foi vítima de um acidente, vindo a falecer, na Santa Casa da Misericórdia de Sobral, no mesmo dia, em fama de santidade.
Suas últimas palavras, conforme testemunhas, foram: “Ela me ama (Maria Santíssima), Pai em tuas mãos entrego a humanidade de Marco…”.
Uma multidão compareceu ao seu velório e após a Missa de Corpo presente presidida pelo então Bispo Diocesano de Sobral, Dom Aldo di Cillo Pagotto, e concelebrada por diversos sacerdotes, seu sepultamento ocorreu, no Cemitério São Roque, reformado por ele, no túmulo da Congregação Mariana.
No ano seguinte, o Município inaugurou uma estátua do Mons. Waldir no local do acidente, sendo que na base desta foi colocado fragmento da via antes existente. O local é palco de constante visitação e todo dia 22 acontece no local um terço que já chegou a reunir mais de 1.000 pessoas. Foi criado também um museu no Centro Pastoral Mater-Dei com a finalidade de deixar os registros de sua vida sacerdotal frente a Paróquia de São Manuel do Marco.
No dia 15 de Dezembro celebramos a Abertura da Causa de Beatificação e Canonização do Servo de Deus Waldir Lopes de Castro, com a presença de nosso Bispo Diocesano, D. José Luis Gomes de Vasconcelos, grande incentivador da Causa e da Comissão de Postulação referenciada pela Congregação da Causa dos Santos da Santa Sé.
De 14 a 22 de Dezembro, a Paróquia de São Manuel celebrou, com intensa piedade, a primeira novena em louvor a Santíssima Trindade pela Beatificação do Servo de Deus Waldir.

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