O SAL QUE NÃO SALGA A POLÍTICA BRASILEIRA

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Eudes de Sousa
Não conheço, mais exemplo que o Sermão de Santo Antônio aos Peixes, de Padre Antônio Vieira, se referindo aos moralistas que, por vezes, povoam o nosso país e se alçam, implacáveis com o erro, sobre o campo das nossas faltas de verdades em nossa democracia. A advertência que nos deixou no famoso Sermão aos Peixes, com a antiguidade de quatro séculos, já nos mostrava que essa estranha fama de reformadores, em nome de uma reforma política que o povo deseja expressamente nas urnas em época de eleições, tem quase a idade deste país e das instituições.
Continuo lendo o padre Vieira, para fixar, nas origens remotas da história política, social e cultural brasileira. Quando vemos o grande pregador reportar-se a mentira. Se o império da mentira não fora tão universal no mundo, pudera-se suspeitar que neste nosso país tem a sua corte a Mentira política
Mas o padre não só falou apenas sobre a mentira, fez uma acusação que, com certeza, tomaria como um reflexo de setores políticos, sociais e culturais e administrativos, tão impregnados na trapaça, da falsidade. Sob esse aspecto, tinha razão e tão poderosa era sua acusação, que vararia quatro séculos, para chegar aos nossos dias, com a atualidade daqueles primeiros instantes da vida do nosso país.
Abro os jornais impressos e os telejornais em todos os canais e vejo, quase todos, revestidos de uma austeridade impecável de um sadio e contagiante de que se ressalve a justiça, para que um sistema tão decente como o nosso, que tem produzidos monumentos de sabedoria política e de correção democrática, como de poucos políticos, não viesse a ser “contaminadas” pelas mentiras, que têm o azinhavre das matérias pagas a centímetros na imprensa e o mau cheiro da ausência de caráter em que apodrece uma cultura de abajulação à custa do sacrifício do povo, em nosso país.
Mais uma vez, a presença do padre Vieira nos parece quase profética. Naquele outro admirável Sermão aos Peixes, quando lhe parecia, já, inútil, pregar aos homens, vamos encontrar essa admirável e oportuníssima referência: “Vós, diz Cristo Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra porque quer que façam na terra o que faz o sal”. O efeito do sal é impedir corrupção, mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa havendo tantos nela, que têm ofício de sal, qual será ou qual poderá ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal que não salga ou porque a política não se deixa salgar.
Na verdade, quando vemos os pontífices da mentira, os mesmos homens que aperfeiçoaram todos os métodos de mentiras políticas e falsificação da verdade na política, chamando, com suspeita conformidade até de palavras, contra um pronunciamento legítimo de uma democracia em nosso país. Quando vemos tudo isso, é o sal que não salga a política porque já traz nele próprio, os corrosivos e os germes do apodrecimento do vício do poder.
Este é o problema que entregamos ao exame das chamadas elites políticas. As elites políticas que dirigem a economia do Estado Brasileiro. Podemos dizer sem falsear a verdade, que o Sermão de Santo Antônio aos Peixes, de padre Antônio Vieira, ainda vela pela perpetuidade de valores morais que a situação atual os aniquilam.
Com efeito, passando às representações dos peixes grandes que comem os pequenos, Por exemplo, Vieira alerta os peixes que Deus os pode castigar, tal como castiga os homens, pois poderão encontrar sempre outros peixes maiores que os comerão a eles. Vieira aconselha os peixes a não se destruirem uns aos outros, pois já basta a perseguição que lhes movem os homens. Temos que aceitar a primeira das hipóteses de Vieira como ao seu tempo, comparando os peixes com os vícios humanos. Os Voadores que é ambição e a presunção. Por último, o Polvo, é a representação da traição.
Enfim, a verdade, deve assentar em premissas claras sobre constatações tão materiais, desmascarar as mentiras, que há mais detestável neste país. O que se deseja é que os postos administrativos não sejam meros instrumentos do sal que não salga a política brasileira.
Presidente da Academia Massapeense de Letras e Artes, jornalista e crítico literário.

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