UMA QUEBRA NA TRADIÇÃO!

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FRANCISCO SILAS LOPES SIMÃO
Graduado em História licenciatura pela Universidade Estadual Vale do Acaraú- UVA
Agente de Pastoral na Paróquia São João Batista, Pacujá/CE


Desde os primórdios da humanidade, as festas sempre se fizeram presentes no cotidiano do ser humano, nas mais diversas sociedades. Na Igreja, as festas dos santos padroeiros surgiram como meio de inviabilizar as festas pagãs. A principal característica é a louvação e os agradecimentos de graças alcançadas pelos santos protetores.
As festas religiosas estão presentes no Brasil desde o período da colonização. A devoção aos santos foi um importante ferramenta para a construção do processo de evangelização nas novas terras. As festas religiosas tem a capacidade de integrar as pessoas, sociabilizar e mostra a identidade de um povo através de sua prática.
Presente na Península Ibérica como cultura religiosa muito antiga, a festa em honra a São João Batista tem registros desde os primeiros tempos da colonização do Brasil no território da Bahia, o historiador Riolando Azzi em seus estudos sobre a sé primacial em Salvador nos afirma que São João Batista já possuía uma grande popularidade de caráter devocional em fins do século XVI.
Hoje nossa sociedade vivencia um tempo conturbado, uma verdadeira crise social provocada pela pandemia do covid-19.Estamos privados de celebrar a festa dos santos, padroeiros das cidades.
O mês de junho que é tradicionalmente muito festivo dentro das tradições de religiosidade popular e católica. Festejam-se neste mês grandes santos do catolicismo, Santo Antônio de Pádua, São João Batista, São Pedro e São Paulo, santos estes que a devoção foi trazida como verdadeira aculturação em novas terras ou como um translado de ritos e costumes do mundo europeu, sendo responsáveis os missionários religiosos que estiveram na colonização do Brasil, dos quais podemos citar os jesuítas, que foram mais presentes com seu projeto de aldeamento missionário.
O nordeste brasileiro é uma região que se destaca por celebrar o mês de junho com muita animação, com grandes festivais de quadrilhas, comidas típicas, novenas, missas, procissões. O devoto vê-se amparado na fé em meio às dificuldades da vida. É momento de agradecimentos, de renovação de promessas, de um contato e de uma busca com o sagrado.
Nestes tempo difíceis, de isolamento social, para Pe Antônio Ronaldo a humanidade vivenciava um sentimento de onipotência exacerbado, deixando Deus de lado e sem espaço. Ele compreende que “seja na violência cotidiana em nossas cidade; a fome; a miséria e, mais recentemente a situação em que vivemos, afligidos pela covid-19, nos levam a pensar e criticar nossa pretensão de onipotência”
Em Pacujá, cidade interiorana do estado do Ceará, tradicionalmente se festeja o padroeiro da cidade, São João Batista, onde se vivenciam dez dias de festa, com novenas, missas, procissões, onde as pessoas se voltam mais para o ritmo de religiosidade, quebrando assim o cotidiano, a monotonia, seja na parte sagrada ou na parte profana.
Este ano devido a pandemia da covid-19 não celebraremos em nossa cidade, a festa da natividade de São João Batista, será uma quebra numa tradição iniciada no final do século XIX, ainda quando Pacujá era apenas uma vila conhecida como Belmonte.
É necessário as vezes nos perguntarmos. Porque isso está acontecendo? Acredito que não há uma resposta concreta para essa pergunta, mas é necessário a nossa condição de ser humano, de recordar que somente Deus é que é absoluto, poderoso, mas esse poder nos mostra que envolto de misericórdia e esperança. Pe Antônio Ronaldo nos diz que a nossa tarefa nesses tempos de pandemia é esperançar.
É tempo de refletir!
Atualmente, a festa estava perdendo seu sentido, as pessoas só buscavam alegria através dos paredões de som, a religiosidade tem perdido espaço para a secularidade, para as grandes mídias, busca-se uma alegria, uma alegria passageira; o ritmo de São João tem dado lugar ao funk, às músicas que fazem apologia ao sexo, à mulher como objeto, a vida fácil. Até mesmo o parque de diversões tem perdido espaço para esses novos entretimentos. Quando criança, sentíamos muita alegria ao saber que o parque de diversões havia chegado à cidade, que já havia sido montada a roda gigante, o espalha brasa, o auto-pista, o minhocão.
A festa de São João Batista termina uma, já se espera a outra, esse é o sentimento que cada pacujaense sente. Pe Zenóbio da Silva afirma no livro de tombo da Paróquia Sra Sant’Ana em Mucambo, que é necessário que os pacujaenses vivessem o período da festa mais tempo. Entretanto ainda é uma festa marcada por muita devoção e piedade.
Esse ano o período que demarca a festa, 14 a 24 de junho, será de forma diferente já que estamos em isolamento social, buscando somente o essencial para o nosso viver. O mês de Junho de 2020 em Pacujá, não será mais o mesmo. Em 2019 jamais imaginaríamos que não vivenciaríamos mais um festejar da natividade de São João Batista, que para Maria de Nazaré é a fé do povo de Pacujá, o verdadeiro respeito a tradição dos mais velhos.
Este ano não veremos ao pau-da-bandeira percorrer as principais ruas da cidade, sendo levantados pelos devotos de São João Batista, como nos afirma Pe Berg descrito no livro de tombo da paróquia, que é imensa a alegria em conduzir o pau da bandeira pelas ruas da cidade, muitos se sentindo úteis em festejar seu tão venerado santo padroeiro.
Para o sacerdote a festa de São João Batista na paróquia é “o ápice de sua caminhada: A festa de seu padroeiro tão venerado São João Batista. Esta festa realmente envolve a cidade numa atmosfera de muita fé e alegria e confraternizando atingindo a todo sem distinção” (Livro de tombo nº 1 da PSJB, Pacujá-CE,p. 57-58)
Desse modo, estaremos em nossas casas, sendo verdadeiras igrejas domésticas, em unidade, em oração, rezando, refletindo, buscando compreender os planos de Deus, e acreditando sempre em dias melhores, que a Esperança é viva e vem de Deus, que Ele jamais nos abandonará em meio as dificuldades.
Com ajuda do Cristo ressuscitado e pela intercessão do nosso padroeiro São João Batista iremos superar isto juntos.” Eis a nossa tarefa fundamental: Esperançar!”

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