POUCAS E BOAS

JOSÉ MARIA SOARES – 100 anos de amor a Sobral e ao Rádio
Quanto o tema é “O Rádio em Sobral”, despontam imediatamente os nomes de José Maria Capote Soares e Francisco Marques dos Santos – Marcos da Cruz (1928-2012). Por inolvidável merecimento e justiça, esses dois sobralenses se transformaram nos principais pilares nos quais se apoiaram e ainda se apoiam os que fizeram e os que continuam a fazer a história da radiofonia em Sobral. É impossível escrever a história do rádio local sem iniciar pela destes dois grandes sobralenses.
Já que estamos na véspera do Centenário de nascimento de José Maria Soares (como ficou popularmente conhecido, a Coluna presta-lhe singela e merecida homenagem. Ao mesmo tempo, em rende-lhe um preito de gratidão pela intensa e imprescindível contribuição prestada à imprensa falada e escrita e à sociedade desta região.
Filho de dona Isolina e Francisco Hemetério Soares, o radialista e jornalista José Maria Capote Soares nasceu em Sobral no dia 5 de maio de 1925. Era casado com Maria de Lourdes Coelho Soares, com quem teve Maria das Graças e Hemetério Neto. Estudou as primeiras letras em sua terra na escola do professor Luiz Felipe e se formou em Contabilidade na Escola Técnica de Comércio Dom José. Trabalhou como guarda-livros das empresas P. Frota & Irmão e Frota Gentil de Sobral Ltda., tendo-se aposentado como funcionário da Companhia de Eletrificação do Ceará (COELCE). Mas predominou como atividade principal a comunicação.
Segundo Zé Maria, a vocação para o rádio começou nos tempos de criança, quando ajudava seu pai, que era gerente da Rádio Coluna Imperator. Trata-se do serviço de amplificadoras criado por Falb Rangel na Praça Dr, Antônio Ibiapina (São João). “Quando eu falava alguma coisa no ar, chegavam a perguntar se era voz de mulher”, comentava José Maria Soares para justificar que iniciou no microfone quando ainda nem tinha voz para tanto. Graças à sua desenvoltura, a seu interesse e à incessante busca por mais conhecimentos, com o tempo foi convidado para trabalhar com os proprietários da Rede Iracemista de Emissoras Cearenses.
Em 22 de novembro de 1952 o grupo fundou a Rádio Iracema de Sobral, hoje Rádio Voz FM, designando José Maria Soares como seu primeiro diretor. Foi essa a única emissora em que trabalhou durante toda sua vida.
A partir daí passou a empreender um intenso trabalho para dar boa qualidade e impulso imediato ao novo meio de comunicação que se instalava na cidade. Não poupou esforço físico, nem criatividade para driblar todas as adversidades, quer de ordem técnica, financeira ou de mão de obra qualificada ainda carente na região.
Diante disso, teve de desempenhar as funções de empresário, produtor, técnico, publicitário, apresentador e, acima de tudo, de professor. Por sua batuta passou a maioria dos profissionais que brilharam ou continuam brilhando no rádio da região e até nacional. Foi responsável pela orientação e formação de grande número de comunicadores, sempre priorizando o zelo pela ética, excelência profissional e respeito ao ouvinte. A comprovação está no sucesso da maioria deles, na eterna gratidão expressa por seus inúmeros discípulos e na forma carinhosa com que os antigos alunos, e depois colaboradores, se referem ao saudoso mestre.
Como apresentador, o programa mais famoso que comandou mais famoso foi o Grande Jornal Sonoro H 22, que era apresentado às 21h, de estrondoso sucesso durante muitos anos. Sua característica era “Stars and Stripes Forever” (John Philip Sousa). “Era uma espécie de Jornal Nacional (TV) dos dias de hoje”, comparava Zé Maria.
Quanto às alegrias no rádio, destacava o fato de ter trazido para Sobral, através do Show Vigorelli, uma caravana com mais de 40 artistas famosos da MPB, dentre os quais, Nelson Gonçalves, Luiz Gonzaga, Ângela Maria, Carlos Galhardo, Gregório de Barrios, além de grandes orquestras, como a Tabajara (Severino Araújo), Românticos Del Caribe e outras, atraindo grande público de toda a região. Sobre as tristezas no microfone, assegurava que a maior delas foi a de ter de noticiar quase na mesma hora o falecimento do Bispo da Diocese de Sobral, Dom José Tupinambá da Frota, a quem muito admirava e de quem era muito amigo.
José Maria Soares foi considerado o maior apresentador de shows e mestre de cerimônias de Sobral, tendo sido muito requisitado para abrilhantar Festas de Miss, de Debutantes, de Colação de Grau e outros eventos em Sobral, outras localidades e até na capital cearense. Na imprensa escrita foi assíduo colaborador de importantes jornais de Sobral e da capital cearense. Neste semanário (Correio da Semana) assinou por muitas décadas a Coluna Social, sempre muito apreciada. Era presença marcante em seminários e Convenções, tanto no Ceará como em todo o Brasil. Tornou-se imortal, passando a ocupar a Cadeira nº 11, da Academia Sobralense de Letras.
“O Papa do Rádio sobralense”, como ainda é carinhosamente chamado, teve uma vida de homem íntegro, de admirável espírito cristão e de refinada educação. Por seu incansável trabalho em prol da comunicação interiorana José Maria Soares foi merecedor de farto reconhecimento, muitas comendas e diversos títulos concedidos pelas mais respeitadas entidades culturais de Sobral e do Estado do Ceará. Recebeu homenagem da Câmara Junior, Lions, Rotary, Irmandade do Santíssimo Sacramento, Guarany Sporting Club e Maçonaria. O Centro Cultural Dom José instituiu o Troféu que leva seu nome; foi agraciado com o Troféu José Limaverde como melhor radialista de Sobral e também recebeu o Troféu Comunicador do Século. Foi membro destacado e respeitado na Associação Cearense de Imprensa (ACI), além de muitas outras honrarias a que fez jus. Em 1991, tornou-se samba-enredo da Escola Unidos do Alto do Cristo de Sobral. No próximo dia 15 de maio, a Academia Sobralense de Estudos e Letras (ASEL), em Sessão Solene estará comemorando o Centenário de nascimento do seu inesquecível ex-acadêmico José Maria Soares.
Durante a vida o radialista José Maria acumulou vasto e valioso acervo, que consta de 8.030 unidades (fotos, fitas cassetes, fitas de vídeo, discos etc.). Cumprindo desejo seu, a família doou seu valioso acervo fotográfico e fonográfico ao Museu Diocesano Dom José deste município, onde foi criada uma Sala em sua homenagem.
José Maria Capote Soares faleceu no dia 17 de julho de 2003, aos 78 anos, no Hospital do Coração de Sobral, e acha-se sepultado no Cemitério São José desta cidade. Já a esposa, Maria de Lourdes Coelho Soares, faleceu em Sobral no dia 13 de junho de 2014 e acha-se sepultado onde já repousava José Maria Soares.
Na minha opinião, que fui discípulo e amigo do saudoso comunicador, a Câmara de Vereadores e a Prefeitura de Sobral demorou muito a quitar seu débito de reconhecimento e gratidão para com Jose Maria Soares:
Lamentavelmente, muitos sobralenses, e não sobralenses, que têm sido fartamente lembrados e homenageados, alguns apenas por terem parentesco com políticos ou em retribuição a pequenos favores prestados a parlamentares municipais. Enquanto isso, o ilustre homem de imprensa, Zé Maria Soares, só foi lembrado há pouco tempo com graças aos esforços do escritor Arnaud de Holanda Cavalcante junto ao vereador Carlos Evanilson Oliveira Vasconcelos, responsável pelo ato legal. E assim nasceu a (pequena) Rua José Maria Capote Soares – CEP 62010-630, no bairro Tamarindo, por trás da extinta Fábrica de Tecidos.
Mas o trabalho e o amor a Sobral de José Maria Capote Soares direcionados à sua terra e à sua gente jamais serão esquecidos. Especialmente por aqueles que gostam e defendem a comunicação séria e sempre em prol do bem da humanidade.



