Passados quase nove meses da assinatura da Carta Encíclica do Papa Francisco Fratelli Tutti, podemos ver os frutos que ela tem gestado no seio do mundo. São muitos congressos, palestras, cursos sobre a encíclica, o que nos faz pensar na amplitude e no alcance mundial do texto. O papa da Laudato Si e da Fratelli Tutti tem de fato exercido sua voz profética na Igreja e no mundo.
Ao falar sobre a fraternidade e a amizade social, Francisco dirige-se a todas as pessoas de boa-vontade e apresenta uma profunda abordagem da atual necessidade de se pensar a humanidade em sua dimensão comunitária. O mundo precisa ser visto como uma grande comunidade de irmãos.
Nesse sentido, o Sumo Pontífice traz uma reflexão cristã em vista de uma maior abertura às necessidades dos povos, ao diálogo, à política e ao papel social da fé. Deus criou todos os seres humanos em igual dignidade e os chamou a conviverem entre si como irmãos. A pandemia, que ainda estamos enfrentando, vem nos mostrar que estamos todos no mesmo barco e que a dor de um é a dor de todos. Daí a necessidade de se criar uma comunhão universal.
Por isso, o Santo Padre centra-se em pontos comuns a todos os seres humanos, apresentando valores e deveres comuns a todas as culturas, povos, religiões e etnias. Existem princípios fundamentais da lei natural que o próprio Criador plantou nos corações dos homens: a paz, a solidariedade, a fraternidade, o respeito à vida, a dignidade do ser humano.
São valores que ultrapassam toda espécie de divisão humana. Tal como dizia Santo Irineu de Lião: “as sementes do Verbo estão espalhadas em todos os povos e culturas”. Tal entendimento, retomado pela Fratelli Tutti, é um ponto-chave para se construir a cultura do diálogo, seja entre as grandes nações, seja em nossas pequenas comunidades ou até mesmo nas relações entre vizinhos.
Com isso, o Papa Francisco quer marcar a identidade cristã pela característica do diálogo a partir da superação de toda espécie de indiferença. Uma das grandes inovações do seu pontificado é justamente mostrar que o evangelho deve fecundar nossas relações interpessoais e nos preparar para a comunhão com todos os irmãos. Isso exige um recomeço, apontado em vários caminhos na encíclica. E o papa faz o apelo de que tal recomeço se construa a partir dos últimos, dos pobres, dos menos favorecidos.
Cada cristão precisa ter um coração aberto ao bem comum de tal forma que se crie uma maior solidez nas relações humanas. Francisco pede que se semeie aqueles valores comunitários, presentes em tantos lugares, onde ainda se preserva um espírito de vizinhança. Assim, de forma muito ousada, ele acende um lampejo de esperança ao resgatar o sonho de uma comunidade mundial.
É nesse âmbito que a Fratelli Tutti se configura como um grande marco para a vida da Igreja. Dentre os tantos documentos de caráter social produzidos pelo Magistério, esta encíclica traz um grande potencial de transformações por sua abordagem inovadora, atual e cheia de perspectivas. Por isso, é um material que merece ser trabalhado em nossas comunidades, pastorais e movimentos, a fim de que produza os frutos de transformação e conversão comunitária que ela pode gerar.

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