POUCAS E BOAS

Zuleika Viana parte deixando exemplo de fé, dedicação e trabalho

Na quarta-feira (31), por volta das 22h, faleceu no Hospital do Coração de Sobral Zuleika Ximenes Viana, de 94 anos, em decorrência de problemas cardíacos. Inupta e de imenso talento profissional, a distinta senhorita prestou relevantes serviços à sociedade sobralense e da região em diversos segmentos, inclusive mesmo depois de aposentada. Trabalhou durante cinquenta e sete anos na Cúria Diocesana local, onde exerceu o cargo de Secretária do Bispado, além de outras colaborações.
Na quinta-feira (1º) aconteceu o velório no cemitério Jardim Eterno, onde, às 15h, foi celebrada missa de exéquias presidida por Dom José Luiz Gomes de Vasconcelos, Bispo Diocesano. Em seguida, foi realizado o sepultamento no cemitério São José.

Trajetória
Zuleika Ximenes Viana nasceu em Sobral (CE) no dia 22 de junho de 1929, sendo seus pais a forquilhense Maria Ximenes Viana e o acarauense Antônio Fernandes Viana, que também geraram Zilmar e Francisco. Além de outras atividades, antes de se mudar para Sobral, Sr. Viana, seu pai, também atuou como professor, comerciante e delegado de polícia em Forquilha.
Em Sobral, os filhos foram bem educados, conquistaram bons empregos e formaram suas famílias. Nessa cidade, Zuleika Viana chegou a concluir o curso de Contabilidade na Escola Técnica de Comércio Dom José, fundada por seu parente Paulo Ximenes Aragão.
Com assídua dedicação à religião, ao trabalho e à cultura, Zuleika aproveitou muito bem a convivência com integrantes desses segmentos, aproveitando para aumentar fortemente sua bagagem religiosa, laboral e cultual.
Inicialmente, aos 18 anos de idade, Zuleika Viana trabalhou na prefeitura de Sobral, na administração do prefeito Dr. Jacinto Antunes Pereira da Silva, engenheiro agrônomo pernambucano que trabalha no DNOCS. Em seguida, trabalhou também nas administrações de Antônio Frota Cavalcante e Dr. Paulo de Almeida Sanford. Logo após, aprovada em concurso, ingressou no extinto Banco de Crédito Comercial, onde permaneceu durante vinte anos. Mesmo trabalhando no Banco, passou a colaborar com a Diocese.
O envolvimento de Zuleika Viana com a Diocese sobralense teve início em 1962, quando era bispo Dom João José da Motta e Albuquerque. Na época, Mons. Fontenele era o secretário do bispado, mas teve de deixar o cargo em decorrência de um enfarto. Segundo contava Mons. Joaquim Arnóbio de Andrade, ao rezar e pedir uma luz lembrou-se do Sr. Vasconcelos (pai do Dr. Davi Vasconcelos – Equilab).
O futuro substituto do Mons. Fontenele trabalhava no extinto Banco de Crédito de Sobral e decidiu levar consigo a colega Zuleika Viana que, inicialmente relutou, mas foi convencida por Mons Arnóbio. Assumiram, então, os trabalhos na Diocese em 20.09.1962.
Depois de dois anos, Sr. Vasconcelos teve de pedir demissão do cargo de secretário do Bispo por problemas de saúde, ficando, provisoriamente, em seu lugar Zuleika Vianna. Seu trabalho agradou a Dom Mota a ponto de, antes de ele deixar Sobral, sugerir que seu sucessor, Dom Walfrido Teixeira Vieira, a efetivasse no cargo. E assim foi feito.
Foram mais 33 anos ao lado de Dom Walfrido, com quem trabalhou durante mais tempo. Vale destacar que Zuleika Viana também prestou relevantes serviços a outros órgãos da Diocese, tais como, Museu Dom José, Rádio Educadora, Jornal Correio da Semana e outros.
Apesar de colocar o cargo à disposição sempre que assumia um novo bispo, isso era imediatamente refutado: terminava sendo convidada e convencida por todos eles a ficar. Dessa forma, serviu também no governo episcopal de Dom Aldo di Cillo Pagotto, Dom Fernando Antonio Saburido, Dom Odelir José Magri e, por último, Dom Vasconcelos.
“Trabalhar e manter-se sempre ativa para permanecer viva e saudável por mais tempo”, era a regra de sobrevivência de Zuleika, que manteve memória privilegiadíssima até seus últimos dias.
A notória sobrecarga de trabalho apenas a estimulava a permanecer sempre atuante. Desse modo, além de envolver-se e esmerar-se cada vez mais no que fazia, Zuleika Viana ainda arranjava fôlego para mostrar seu talento em outras áreas. É o exemplo de seu trabalho como revisora, rádio-atriz e atriz, tendo participado de várias peças no Teatro São João, com atores sobralenses como Hugo Viñas, Clotário Aguiar, João Barbosa, Diana Azevedo e outros. Afora isso, ainda arrumava tempo para apreciar a boa música, assistir a bons filmes e documentários, ouvir bons programas radiofônicos e, ainda, “versejar”, o que se comprova através do seu caderno de quadrinhas e poemas.
Além de gozar de imenso respeito e prestígio na sociedade local e com os colegas, na função de secretária do Bispado, Zuleika Ximenes Viana foi unanimemente reconhecida como servidora competente, dedicada, exemplar e fonte de inspiração para todos. Isso é constatado pela satisfação de seus superiores hierárquicos e por companheiros de trabalho, bem como pelas pessoas que acorriam à Cúria para tratar de negócios ou colher alguma informações inerentes à Igreja Católica em Sobral.
Por sua seriedade, dedicação e competência, a história de Zuleika Ximenes Viana na Cúria confunde-se com a história da segunda metade da existência da Diocese de Sobral. Por conta disso, em 2019, recebeu troféu de “Mulher do Ano” em Sessão Solene de homenagem ao Dia Internacional da Mulher, realizada pela Academia Sobralense de Estudos e Letras (ASEL). Segundo Raimundo Aragão, membro da ASEL, “Era admirável o amor e a dedicação de Zuleika Viana pela preservação de tudo que diz respeito à história de Sobral. Por essa razão, frequentemente a ela sempre recorriam, e eram prontamente atendidos, escritores, historiadores, genealogistas e pesquisadores em busca de alguma informação ou documentos históricos”.
A Cúria Diocesana também lhe prestou homenagem criando uma sala denominada de “Arquivo Diocesano Srta. Zuleika Ximenes Viana”.
Do alto da sua longevidade e sabedoria, a amiga Zuleila Ximenes Viana sintetizava a razão de sua feliz passagem por este planeta e sempre confessava a este colunista: “Minha vida tem sido muito boa porque amo o que faço e faço o que gosto”.
(Por Artemísio da Costa)