A fé cristã é profunda e intrinsecamente comunitária. O batismo, que nos torna cristãos, nos torna também membros vivos da Igreja. Dessa maneira, nenhum cristão que deseja viver autenticamente a sua fé pode viver de forma isolada, individualista, longe de tudo e de todos. O próprio ato de fé deve ser sempre eclesial, comunitário.
Crer é comungar com Deus e com os irmãos na fé. Crer é criar comunhão e participar na vida da comunidade. Crer é também viver um compromisso ético de cidadania e participação na sociedade. Olhando para a sociedade atual, percebemos uma forte tendência ao isolamento e ao individualismo.
A forma neoliberal do capitalismo prega vivamente o individualismo, a meritocracia, a concorrência e a eliminação odiosa do outro. Reafirma o poder dos fortes, dos sadios, e exclui os fracos, os pequenos. Desemprega os menos capazes. Instaura uma concorrência feroz em que sobra a maioria das pessoas, jogadas para as sarjetas da sociedade. A concentração urbana também rompe os espaços humanos de encontro e de afetividade que havia na cultura rural. A sociedade urbana é formada por uma multidão de anônimos.
Poderíamos continuar a citar uma série de fatores que contribuem para a perda da dimensão comunitária das relações humanas e, consequentemente, do exercício da fé. Essa é uma das crises mais fortes da sociedade moderna. Porém, existe na natureza constitutiva do ser humano um impulso a viver em comunidade. Há, em cada indivíduo, uma orientação radical ao comunitário.
A natureza humana foi criada pela ação de um Deus trino, de um Deus-comunhão. No início de tudo está a comunhão dos Três, e não a solidão do Um. Aqui encontramos o fundamento teológico mais profundo da dimensão eclesial da fé cristã. A Igreja é um lugar visível de comunhão e de unidade, porque é alimentada pelo mistério de amor da Santíssima Trindade.
Por isso, ser cristão inclui a missão de formar comunidade e de exercer a fé de forma comunitária, de tal forma que tudo o que nos tira da comunhão eclesial é prejudicial. Se fomos criados segundo a imagem de Deus-comunhão e Dele recebemos o dom de viver a comunhão, é necessário crer de forma eclesial e pensar de forma comunitária. Certamente, podem existir espiritualidades que, aparentemente, são cristãs católicas, mas que isolam os cristãos dos irmãos e quebram a unidade da Igreja.
Tais espiritualidades não são autenticamente cristãs. Jesus, em sua história, anunciou e inaugurou o Reino de Deus a ser vivido de forma comunitária. Nascido no povo de Israel, Jesus herdou de sua tradição religiosa a consciência comunitária. Quando iniciou sua vida pública, lentamente foi constituindo o grupo dos discípulos com quem conviveu e partilhou experiências. Desse grupo nasceu a Igreja como comunidade dos seguidores de Jesus.
Só existe comunidade se houver comunhão, com seu caráter dinâmico de redescobrir em cada tempo a beleza de viver a unidade na diversidade. Nascida do coração da Trindade, a Igreja é desafiada a estruturar-se como comunidade, expressão da comunhão trinitária. É na comunidade que cada cristão vivencia com seus companheiros de fé a missão de seguir Jesus Cristo a de anunciá-lo em um mundo cheio de individualismos e “solidões”.

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